AMAZÔNIA: FUNDAMENTOS
GEOPOLÍTICOS DA CONQUISTA E DOMINAÇÃO
Prof. Dr.
Roberto Monteiro de Oliveira
INTRODUÇÃO - A Amazônia surge
no horizonte geográfico da chamada civilização cristã ocidental, ao tempo da
expansão colonial europeia.
Expansão colonial europeia é
um movimento determinado pela formação do modo de produção capitalista na sua
fase concorrencial.
As potências da época
disputavam entre si o que ficou conhecido como colônias ultramarinas
fornecedoras de matérias primas para as chamadas sedes metropolitanas que
transformariam essas matérias primas em produtos para serem consumidos nas
sedes metropolitanas entre si e nas colônias. Era o início da globalização e da
formação do grande mercado consumidor do capitalismo.
Este movimento implicava na
captura e apropriação dos territórios “descobertos” e na dominação de seus
habitantes. A ganância pela apropriação de grandes territórios está implícita
na possibilidade de maior ocorrência de recursos naturais que pudessem ser
transformados em mercadorias.
A competição entre as
potências da época determinará a mudança de postura do governo português em
relação ao parecer de Pero Vaz de Caminha quando em sua primeira carta ao rei
de Portugal após observações preliminares em relação às terras brasileiras
afirma: “nelas até agora não podemos saber
que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro nem lho vimos”.
Quanto às atividades
produtivas dos índios, primitivos habitantes do Brasil, Pero Vaz de Caminha
verifica que: “eles não lavram nem criam.
Não há aqui boi nem vaca, nem cabra, nem ovelha, nem galinha, nem qualquer
outra alimária, que costumado seja ao viver dos homens”.
Prosseguindo em suas
observações quanto aos indígenas Pero Vaz de Caminha afirma: “Nem comem senão desse inhame que aqui há
muito e dessa semente de frutos que a terra e as árvores de si lançam”.
Entretanto Pero Vaz de Caminha termina sua carta ao rei de Portugal
recomendando: “E que aí não houvesse mais
que ter aqui esta pousada para esta navegação de Calicute, bastaria”.
Nesse primeiro momento na
percepção dos portugueses o Brasil se mostrava pobre de recursos naturais e com
uma população culturalmente atrasada em relação à chamada civilização cristã
ocidental. Entretanto, foi considerado um importante apoio geopolítico e
geoestratégico para a exploração de outras regiões.
Como parte integrante do
Brasil a Amazônia também até meados dos setecentos foi uma região pretendida
pelas potências europeias, mas considerada por Portugal uma região selvagem,
hostil sem condições de hospitalidade e distante. Entretanto seria interessante
manter a posse pelas possibilidades de encontrar ouro, prata, outros metais
preciosos e terras férteis.
Será a concorrência mais acirrada entre os estados nacionais que
determinará o movimento de colonização dos territórios capturados pelas potências
europeias nas chamadas regiões ultramarinas. O Brasil e particularmente a
Amazônia sofreu a concorrência e as ameaças da cobiça de franceses, holandeses,
ingleses e espanhóis o que levou a coroa portuguesa a iniciar o processo de
colonização do Brasil e particularmente da Amazônia.
Assim, como o objetivo de afastar os concorrentes no comércio do pau-brasil e
na posse de terras potencialmente produtivas é que o governo português resolve
preservar a posse exclusiva do Brasil através de ações militares e comerciais,
as expedições guarda-costas e colonizadoras.
O PROJETO DA COLONIZAÇÃO – A
organização da intervenção econômica das potências europeias nas colônias
ultramarinas se deu através de um projeto de colonização. Este projeto de
colonização das colônias foi elaborado pela nobreza e outros áulicos palacianos
como um processo de dominação, expropriação, captura e exploração das
populações nativas e dos recursos naturais existentes em seus territórios.
Na verdade, a Amazônia ao
longo de toda a sua história vem realizando em toda sua extensão e compreensão
o conceito de colônia elaborado pelos cientistas que se colocaram a serviço do
mercantilismo e que vem acompanhando e sofrendo adaptações e atualizações ao
longo de toda a sua trajetória histórica e geográfica:
“...as colônias... devem: primeiro dar a
metrópole um maior mercado para seus produtos; segundo, dar ocupação a um maior
número dos seus (da metrópole) manufatureiros, artesão e marinheiros; terceiro,
fornecer-lhe uma maior quantidade dos artigos de que precisa”. (HENRI,
See, As origens do capitalismo moderno.. In: NOVAIS, Fernando. 1981, p. 59).
Como nas outras regiões
dominadas pelos europeus, a produção colonial na Amazônia, se deu inicialmente,
com a adoção do trabalho escravo dos indígenas e posteriormente com a
introdução dos africanos também na condição de escravos.
Com a abundância de terras
ainda não privatizadas era impossível evitar a fuga dos indígenas para outras
regiões para darem continuidade ao seu modo de vida. Os índios adotam como
forma de resistência a clássica retirada estratégica para áreas a salvo das
investidas do inimigo.
Dessa forma muitas nações
indígenas conseguiram resistir até hoje. São aquelas nações indígenas que a
literatura própria as denomina de índios arredios, semiaculturados,
semicivilizados e outras denominações pejorativas que só denunciam preconceito,
discriminação e desrespeito contra as nações indígenas. As nações indígenas que
optaram pelo enfrentamento foram simplesmente massacradas.
Pelo mesmo motivo, abundância
de terras ainda não privatizadas era muito difícil, quase impossível, impedir
que trabalhadores assalariados livres, vindos da Europa, invadissem essas
terras devolutas para constituírem uma economia de subsistência voltada para
seus próprios interesses e necessidades.
Essas circunstâncias
objetivas põem para os colonizadores a questão da mão-de-obra. Quem vai
trabalhar? A opção escolhida pelos portugueses foi a integração das nações
indígenas à sociedade cristã ocidental.
Os índios e as índias passam
a fazer parte da civilização cristã ocidental na condição de “descidos” e de “escravos“. Descidos na verdade foram os índios que persuadidos
pelos missionários e escoltados pelas tropas portuguesas desciam de suas malocas para trabalharem
nas “aldeias de repartição” onde
ficavam sob o controle do “capitão de
aldeia” e eram “repartidos” entre
as ordens religiosas, entre os colonos portugueses e entre as instituições da
coroa.
As “tropas de resgates” capturavam os índios, homens, mulheres,
crianças e idosos e os levavam para os mercados de escravos onde eram
adquiridos pelos colonos, pelos religiosos e pelos funcionários do governo
português, na sede da província, Belém.
Índios escravos foram na
terminologia dos portugueses aqueles índios escravizados através dos “resgates”. Aqui, ao contrário dos “descimentos”, a iniciativa era das
“tropas de resgates” que legitimadas pelos religiosos missionários promoviam “as guerras justas”.
Outra modalidade de atuação
das tropas de resgate era trocar os índios capturados nas guerras intertribais
e que seriam sacrificados por quaisquer objetos de interesse de seus
detentores. Esses índios eram encaminhados para serem vendidos nos mercados de
escravos em Belém.
Nessas condições de extrema
inferioridade e completamente desumanizados, os índios, e as índias passam a
fazer parte desse novo ordenamento geo-social, conhecido como civilização
cristã ocidental.
Nunca será demais, afirmarmos
que é necessário resgatar e destacar na formação territorial do Estado
Brasileiro, o papel primordial e fundamental das nações indígenas.
Particularmente no norte do Brasil foram as nações indígenas que
contraditoriamente apontaram os caminhos da conquista. Remaram, pescaram,
caçaram para alimentar seus conquistadores. Foram as nações indígenas que com
sua robustez física enfrentaram o calor equatorial e com o suor de seu trabalho
construíram igrejas, capelas, catedrais, palácios, colégios, fortes, portos e
etc., e asseguraram a posse da Amazônia para o Brasil.
CARACTERÍSTICAS DA PRODUÇÃO
COLONIAL NA AMAZÔNIA - A produção colonial na Amazônia seguindo as formulações
do projeto de colonização para todas as regiões a serem colonizadas será
organizada considerando as suas condições geográficas intertropicais como
prolongamento e complementação da economia das metrópoles situadas nas regiões
temperadas assumindo características próprias.
Uma destas características é
apontada por Caio Prado Júnior em sua obra História Econômica do Brasil quando
afirma que na Amazônia: “a exploração se
realiza indiferentemente na floresta imensa aberta a todos” (grifos
nossos). Aqui está o fator que vai diferenciar a colonização da Amazônia da
colonização do Brasil. Por conta desse fator aqui na Amazônia inicialmente não
há condições para a formação de latifúndios nem para a implantação de
monoculturas, as plantations: “a
exploração se realiza indiferentemente na floresta imensa aberta a todos”.
É uma produção extrativa que exige relativo investimento.
Ainda segundo Caio Prado
Júnior as atividades econômicas dependem da oferta de produtos da floresta, dos
rios e lagos conforme suas situações e modificações do seu próprio clima no
decorrer do ano: “e faz-se esporádica,
coincidindo com as épocas próprias da colheita, processa-se por arrancos
bruscos, que são as “expedições” (é o nome empregado) que saem no momento
oportuno em busca dos produtos naturais e a que se segue a longa inatividade da
estação morta”. (grifos nossos).
Na verdade, o projeto de
colonização portuguesa na Amazônia considerando as condições geográficas
intertropicais e a condição econômica e política de Portugal terá também esta
característica que marcará a economia local até os dias atuais. Portugal optou
pelo extrativismo. As atividades extrativas restringem-se a circulação de
mercadorias sem grandes investimentos na produção.
Uma outra característica do
projeto colonial decorre da exigência de resguardar com exclusividade as
regiões coloniais e manter com elas o monopólio do comércio, o que ficou
conhecido como o exclusivismo colonial.
Este monopólio permite à metrópole minimizar os custos de produção dos produtos
coloniais e impor preços aos produtos finais.
Assim, a venda desses
produtos na sede metropolitana ou em outras metrópoles só beneficiou a
burguesia mercantil metropolitana que se apropria das rendas das populações das
colônias, das rendas das populações das sedes metropolitanas e das rendas das
populações das outras metrópoles.
De igual modo, a compra de
produtos para consumo nas colônias a preço de mercado nas outras metrópoles e
sua revenda para as colônias a preços monopolistas só possibilitou lucros para
a burguesia metropolitana.
Assim o projeto de
colonização estabelece relações altamente vantajosas para as metrópoles e
altamente prejudiciais às colônias, iniciando o processo de enriquecimento das
metrópoles europeias à custa do empobrecimento cada vez maior das colônias
ultramarinas.
Consequência direta do
exclusivismo colonial é resguardar a posse, o uso e usufruto dos recursos
naturais e humanos existentes nas regiões descobertas e capturadas. Daí a
necessidade da construção de estruturas militares para defesa das fronteiras e
limites e a exploração do território com exclusividade.
Uma outra característica do
projeto colonizador é que a produção das colônias se organize dentro das
condições geográficas intertropicais como prolongamento e complementação da
economia das metrópoles situadas nas áreas temperadas.
As colônias situadas nas
regiões intertropicais colocam-se como regiões complementares da economia das
metrópoles situadas nas regiões temperadas, produzirão aquilo que as metrópoles
determinarem.
É nesse sentido que na
Amazônia, inicialmente, a produção colonial será baseada no extrativismo,
daquilo que ficou conhecido como Drogas
do Sertão.
As Drogas do Sertão, na verdade,
têm uma compreensão e extensão bem maior daquilo que a historiografia
tradicional passou para a grande maioria. Trata-se de uma variedade de produtos
coletados pelos índios na floresta nos lagos e nos rios através da caça e pesca
e de outras atividades produtivas que serão utilizados pelos europeus na
tinturaria, na construção naval, na medicina, na alimentação, cordoaria,
perfumaria e etc.
As madeiras e os produtos do
reino animal, a salsaparrilha, a canela, o cacau, o cravo, a piaçaba, a
castanha-do-pará, a baunilha, sementes oleaginosas, pixurim, tinta do urucum e
etc., serão transformados em mercadorias para serem comercializadas com os
outros países.
Complementando todas essas
exigências da obra colonizadora dos europeus nos trópicos, no além-mar, cria-se
também um princípio ético que orientará as ações dos europeus no relacionamento
com a natureza e com as populações das colônias e que será usado e abusado
pelos empreendedores aqui na Amazônia: “Ultra
aequinotialem non peccatur”. (Não se comete pecado nas regiões do equador).
A partir deste princípio
ético não tem mais o que se discutir. Os empreendedores para obter lucros e
sucesso, para serem empreendedores bem-sucedidos na Amazônia podem depredar a
natureza, escravizar os índios, abusar das índias, invadir e expulsar os índios
de suas terras e etc..... Esta será a marca indelével que acompanhará toda a
História e a Geografia da Amazônia: ser uma região colonial.
Nesta linha de princípios,
não satisfeitos com os princípios éticos teóricos visando facilitar ainda mais
a ação dos dominadores, os idealizadores do projeto colonial recuperam,
desenvolvem e aplicam aos nativos da Amazônia o conceito de guerra justa.
A QUESTÃO DA GUERRA JUSTA - A
violência cometida contra as nações indígenas está implícita na lógica da
concorrência capitalista. O Estado monárquico português não poderia se
estabelecer na Amazônia sem o afastamento dos concorrentes europeus, ingleses,
holandeses e franceses, os inimigos externos e sem a destruição dos inimigos
internos, as nações indígenas resistentes à dominação.
São dois projetos de vida
antagônicos: (In)Feliz Lusitânia dos portugueses versus Araquiçawa, a terra sem
males dos tupinambá. Assim, uma vez estabelecidos em Belém os portugueses
iniciam a matança dos índios.
A banalização da violência
contra as nações indígenas no processo de formação territorial da Amazônia tem
os seus fundamentos teológicos. Na civilização judaico-cristã temos
explicitamente a condenação da violência. Os livros sagrados condenam
explicitamente a violência, entretanto os doutrinadores, os chamados Doutores
da Igreja Católica relativizam os ensinamentos sagrados. Javé condenou
severamente o crime fratricida de Cain contra seu irmão Abel dando-lhe uma
severa penalidade. No quinto mandamento está bem explícito e claro “Não Matarás”.
Segundo a exegese tradicional
esta ordem inclui todas as formas de morte que os homens infligem uns aos
outros, desde a morte lenta das torturas físicas e mentais até a morte cruenta
dos homicídios e genocídios e bombardeios. Ou seja, as Escrituras Sagradas
condenam todas as formas de violência.
Assim no Antigo Testamento os
profetas de Israel denunciaram todas as formas de injustiça usadas como
instrumento de violência contra os humildes, os pobres e os estrangeiros, os
órfãos e as viúvas. Denunciaram as injustiças e anunciavam um reino de paz e
reconciliação, no qual as espadas se transformariam em arados, as armas de
violência em instrumentos de paz e prosperidade. Isaías no capítulo 32,
versículo 17 afirma com bastante veemência: “O
fruto da justiça é a paz”.
No Novo Testamento, Jesus
Cristo proclama bem-aventurados os mansos, os construtores da paz, os
misericordiosos e os que têm fome e sede de justiça. Jesus Cristo prega uma
doutrina revolucionária que anuncia um novo mandamento, o mandamento do amor,
que ultrapassa as exigências do legal e do justo e chega ao extremo de propor o
perdão das ofensas e o amor aos inimigos.
Na Amazônia, porém, os
enviados da Ordem de Cristo renegaram toda essa doutrina e enveredaram pelas
leis do enriquecimento rápido e fácil e a qualquer custo. Esqueceram os
mandamentos do Cristo “amai-vos uns aos
outros” e seguiram os conselhos de Maquiavel de “que é melhor ser temido do que amado ... e que não deve importar ao
príncipe a qualificação de cruel para manter os seus súditos unidos e com fé”. É
nesse sentido que se retoma o conceito de Guerra
Justa aqui na Amazônia.
O conceito de Guerra Justa
tem longa tradição na teologia católica. Tertuliano afirmava que a guerra era
tão nobre quanto a navegação, a agricultura e o comércio. Santo Ambrósio
considerava a força guerreira como uma virtude. São Bernardo, o Doutor Melífluo,
ensinava que a guerra era legítima e meritória. Também os doutrinadores
cristãos que escreveram em grego – doutores da patrologia grega - a guerra é
legítima desde que feita pela autoridade pública.
Para Santo Agostinho a guerra
é uma extensão do ato de governar. Além disso, Santo Agostinho estabeleceu
cinco condições para que uma guerra seja considerada justa: 1. A intenção
deverá ser sempre a de restabelecer a paz; 2. O objetivo deverá ser sempre a de
restabelecer a justiça; 3. A guerra deve ser acompanhada de uma disposição
interior de amor cristão entre as partes; 4. A guerra só deve ser empreendida
sob a autoridade de um soberano legítimo; 5. A conduta da guerra deve ser
justa.
São Tomás de Aquino na Suma
Teológica também apresenta as condições para justificar uma guerra. “Em primeiro lugar, a autoridade do Príncipe
que tem mandato para ordenar que se faça a guerra”. Prosseguindo afirma: “uma guerra justa deve ser feita por uma
causa justa, ou seja, é preciso que aqueles que se atacam mereçam pela sua
culpa serem atacados”. Por fim são Tomás conclui: “... os que fazem uma guerra perseguem a paz”.
Observamos que a legitimação
da guerra justa é inicialmente feita pelos teólogos. Somente a partir do século
XVI, com Maquiavel que defendia a ideia de que a necessidade transforma uma
guerra em justa é que a guerra se desvincula da teologia e passa para o campo
do direito e dos cientistas que se colocam a serviço do poder estabelecido.
Concretamente, podemos
concluir que historicamente as potências hegemônicas, através de seus
ideólogos, sempre encontraram e ditaram as razões para impor seus interesses
causando enormes sofrimentos aos povos e danos irreparáveis à natureza
promovendo guerras de conquistas.
Verificando as razões das
guerras movidas contra as nações indígenas amazônicas não encontramos nenhuma
legitimação teológica ou jurídica. De qualquer forma o Bispo de Chiapas
Bartolomeu de las Casas doutrinava “...
toda a intervenção armada provoca mais pecados e destruição do que as ofensas
que trata de eliminar... pregar o Evangelho na ponta da espada é uma heresia
digna de Maomé”.
Na verdade, à luz dos
doutrinadores católicos podemos considerar as guerras movidas contra as nações
indígenas amazônicas como um pecado mortal gravíssimo, pois que se trata simplesmente
da maior invasão territorial seguida do maior genocídio praticado pelos
portugueses que ainda hoje clama por justiça e remissão humanitária desses
povos.
Assim sendo, pode o governo
português legitimar as guerras de extermínio das nações indígenas amazônicas
que se opunham à sua dominação e colocar as bases para a formação e
desenvolvimento da sociedade atual.
Sintetizando as práticas de
violência cometidas contra as nações indígenas pelas autoridades portuguesas no
processo de colonização da Amazônia o historiador José Valente, na sua coluna
"Hoje na vida do Pará", nos relata o seguinte:
"1740. O livro "Brasil, Colômbia e
Guianas", de Ferdinand Denis, enumera os mais sanguinários governadores,
capitães mores e capitães que passaram pela capitania do Grão-Pará. Foram os
seguintes: capitão-mor Francisco Caldeira Castelo Branco – tinha o mórbido prazer de passar o
fio da espada pela goela de inermes índios, principalmente de mulheres e
crianças; capitão-mor Bento Maciel Parente – seus "olhos brilhavam de
estranho prazer quando o índio esperneava na ponta de uma corda";
capitão-mor Jerônimo Fragoso de Albuquerque – fidalgo da casa real (imagine se
não fosse) extinguiu as tabas aborígines, de modo impiedoso, dos índios Iguapé,
Guanapu e Caripi, nos arredores de Belém. Mandava fazer enormes montes de lenha
e os sobreviventes eram queimados vivos. Fragoso de Albuquerque "sentia
enorme prazer em aspirar o cheiro acre da carne queimada"; os capitães
Pedro Maciel Parente e Vital Maciel Parente, sobrinhos do capitão Bento Maciel
Parente, "gostavam de ouvir o som cavo da borduna, na cabeça do pobre
índio"; capitão-mor Manoel de Sousa de Eça matava o aborígine com um fino
fio de cobre, fazendo torniquete em seu pescoço; capitão-mor Luiz do Rego
Barros os eviscerava. Esses foram os que mais se destacaram no extermínio de um
povo: não que os demais capitães não os matassem, mas o faziam rapidamente
("humanamente", segundo eles)". (Cf. VALENTE, José. Hoje na vida
do Pará. O Liberal. Cartaz, Belém, p. 7, 28 mar. 1999).
Esses fatos parecem distantes
no espaço/tempo, entretanto a presença dos índios ainda incomoda os governantes
do Estado Brasileiro. Os grandes projetos do Estado Brasileiro ainda se deparam
com as tribos indígenas resistentes: as estradas, as hidrelétricas, os projetos
agrominerais, a exploração das madeiras e dos fármacos etc. etc.…
A crueldade contra a presença
dos índios continua a mesma. O episódio do líder indígena pataxó Galdino Jesus
dos Santos que foi queimado vivo em Brasília, após participar de manifestações do Dia do Índio é muito expressivo
da violência que ainda se
comete contra os índios no Brasil.
Estabelecidas as exigências e
enunciados os princípios de ação prática inicia-se o processo de integração dos
amazônidas à sociedade cristã ocidental através de projetos de colonização da
Amazônia.
Neste processo, a construção
das estruturas militares é a expressão no território da estrutura da sociedade
regional que se iniciava a construir na Amazônia. A paisagem geográfica
indígena primitiva é destruída e reconstruída em função de novos interesses. “Queima-se a ‘tapera dos Manaus’ para
construir a ‘Paris dos Trópicos’ ou a ‘Miami brasileira’. Este será o
padrão de comportamento da expansão da sociedade da livre iniciativa e da livre
concorrência no mundo. Destrói-se o que está estabelecido pelas populações
nativas e reconstrói-se em função dos interesses dos dominadores.
A floresta, os rios e lagos
passam a receber novas edificações completamente alheias à cultura das nações
indígenas e de suas necessidades e interesses: igrejas, conventos, fortes,
fortalezas, quarteis, portos e etc., são construídos para atender interesses
bem diferentes e distantes dos interesses dos nativos.
Na verdade, não são apenas
estruturas militares, mas é todo, um conjunto de edificações e princípios
éticos que são estabelecidos para atender as exigências do funcionamento de uma
nova organização socioeconômica que se começava a construir.
Dando
cumprimento a esta ordem o próprio governador Joaquim de Mello e Póvoas, em
suas viagens deu novos nomes para antigas aldeias indígenas:
“...fui antigua Aldeia
doz Abacaxiz aqual está mudada pa Itacutiara, ...e a Eregi emnova Va
de Serpa,...” “Passey também a antigua Aldea de Saraca, e a eregy em nova Villa
de Silvez,... “e mandei o Capitão Engenheiro
“riscar a Situação da Praçaz, e ... Cazaz detodos os Moradorez”.
“Segundo as Ordens de S. Mage ...Eregi em Villa de Ega esta, Aldea
de Thaphé...”
“O Lugar de Alvaraes
achey... muito bom, ... com os Dessimentos ... “tenho”... esperancas, q. venha
a Ser hua grande Povoação”. “...achei novamente mudado oLugar de Fonteboa, enão
gostey nada daa Situação emq. Estava...”
Na aqntigua Aldeya de S
Paullo criey anova Va de Olivença, também nesta Va não
achey Farinhas;...”
“...cheguey ao Javary,
e... medesconsolou muito omau Sítio emq. Está estabelecida aquella Povoação,
... e criey anova Villa de S. Jozé do Javary,...”
“Estez Moradores também
não uzão de Farinha, nem ... Macaxeira; ... Sustentandose de frutaz do mato,
epacovas aSadas q. ... Serve depão”. (Universidade
do Amazonas. CEDEAM. Cartas da Primeiro Governador da Capitania de São José do
Rio Negro, Joaquim de Mello e Póvoas (1758-1761). p. 33).
Admite-se
que o idioma de um povo é um dos elementos constituintes de sua própria
identidade e naturalidade. Expropriado de sua própria língua um povo perde sua
identidade, pois perde o seu instrumento principal de comunicação coletiva. Nesse
sentido Pierre Bourdieu afirma: “o que
fala nunca é a palavra, mas toda pessoa social”.
A
espoliação capitalista não se contenta em expropriar a cultura material dos
povos mas arranca-lhes seus traços psicológicos de expressar a sua identidade e
impõe-lhes com o discurso do desenvolvimento, do moderno, do avaçado as suas
práticas nefastas desqualificando valores, conhecimentos e a sabedoria
tradicional dos povos. O idioma, as
artes, a música, as manifestações folclóricas enfim toda a cultura dos povos
são desqualificadas e impostas novas manifestações ao gosto dos dominadores.
Impedir
um povo de expressar o que pensa através de seu próprio idioma, impedir um povo
de construir e exprimir seus raciocínios de acordo com as regras gramaticais de
sua própria língua é a tortura mais execrável que se pode cometer contra um
povo pois que cruelmente mutila a pessoa de sua prória razão e a emudece para
sempre.
Os
indígenas do Brasil e da Amazônia foram impedidos de escrever a própria história
e com isso perderam a memória coletiva de seu passado criando condições para
serem tutelados o que lhes tem impedido de assumir e programar o próprio futuro.
A
colonização portuguesa no Brasil e na Amazônia foi um processo conflituoso que
envolveu a interação e a comunicação do Estado português plenamente instituído
em Lisboa e com seus prepostos nas colônias, e as nações indígenas amazônicas
iniciando seu processo de desenvolvimento e integração à sociedade capitalista,
ainda no estágio de tribos isoladas e independentes aqui na Amazônia.
Na
verdade, na Amazônia foi negado às nações indígenas o direito humano
fundamental e indisponível ao desenvolvimento. São nações abortadas pela
civilização cristã ocidental que lhes negou desde os primórdios de sua gestação
o direito à autodeterminação dos povos. Na Amazônia o Estado
precede a Nação.
O primeiro governador Mello e Póvoas foi sintético e categórico;
“O meyo mais eficaz e prompto para
Seintroduzir nos habitantes desta Capitania a civilização deque tanto carecem
hé o Cazarem os Soldados Com as índias[...] e a frequencia das escolas emque
aprendem os pequenos não Só a ler, escrever, e contar, mas tão bem a Língua
portuguesa; ...” Sendo igualmente necessário para o
augmento destes Povos, o fazerem as plantaçoens de Algodão, ... de Manibas ...
o negócio, e Colheyta do Cacao, ...” (Universidade do Amazonas. CEDEAM.
Cartas da Primeiro Governador da Capitania de São José do Rio Negro, Joaquim de
Mello e Póvoas (1758-1761). p. 34).
No aspecto mais amplo da
comunicação humana, as ordens das autoridades portuguesas emitidas de Lisboa
principalmente através de cartas régias, no sentido de orientar a política do
projeto de colonização da Amazônia sofriam interpretações e adequações por
parte das autoridades coloniais quando de suas execuções, o que provocou
mal-entendidos, equívocos, confusões, desentendimentos, altercações, intrigas e
brigas entre funcionários metropolitanos e coloniais como entre missionários,
colonos e funcionários aqui na colônia.
Na verdade este é um problema
recorrente, todas as vezes que os Governos procuraram intervir na Amazônia e
que remonta ao primeiro diálogo dos descobridores do Brasil com os nativos
conforme relata Pero Vaz de Caminha: “Ali
não pôde deles haver fala, nem entendimento de proveito, (o grifo é nosso), por o mar quebrar na costa. Somente
deu-lhes um barrete vermelho e uma carapuça de linho que levava na cabeça e um
sombreiro preto. Um deles deu-lhe um sombreiro de penas de ave, compridas, com
uma copazinha de penas vermelhas e pardas como de papagaio”.
Em uma longa entrevista ao
Jornal Folha de São Paulo, no CMA em Manaus, publicada em 22 de outubro de 2013
o General Eduardo Villas Boas, comandante militar da Amazônia e posteriormente
comandante do Exército Brasileiro respondendo questões a respeito dos problemas
da Amazônia atualiza essa questão da comunicação entre as autoridades do poder
central e suas bases aqui na Amazônia.
Perguntado pelo jornalista da
Folha de São Paulo: “- Quais são as
principais necessidades da população local?”o General Villas Boas
respondeu: “As reais necessidades da
população da Amazônia chegam ao centro-sul de maneira distorcida. Com isso,
monta-se uma base de conhecimento desfocada, com soluções não apropriadas”.
Prosseguindo em sua resposta afirma o General Villas Boas: “A população, principalmente no interior, não tem necessidades básicas
atingidas. Em grande parte, não há nenhuma presença do governo do Estado. Em
algumas áreas as Forças Armadas são essa única presença”.
Em outro trecho da entrevista
o repórter perguntou ao General Villas Boas: “Brasília sabe o que acontece na Amazônia? ” Ao que o General
Villas Boas replicou: – “Na parte da
defesa até sabe. O que ocorre é que, em pleno século 21, o país não completou
sua expansão interna. Temos metade do nosso território a ser ocupado, integrado
à dinâmica da sociedade”. Concluindo sua resposta afirmou o General Villas
Boas: “A Amazônia, como não está
integrada ao país, não há conhecimento no Sul da sua realidade, seu potencial.
É como se fosse uma colônia do Brasil. Ela não é analisada, interpretada,
estudada e compreendida numa visão centrada da própria Amazônia. Isso nos
coloca numa posição periférica”.
A partir do momento em que as
autoridades portuguesas tomam conhecimento de que a Amazônia não era uma região
desconhecida pois franceses, ingleses, holandeses e espanhóis já a conheciam e
ameaçavam conquistá-la e que também a Amazônia não era uma região vazia pois já
era habitada por inumeráveis nações indígenas o Governo Português inicia o
projeto de sua colonização.
O PROCESSO DE DOMINAÇÃO E COLONIZAÇÃO
DA AMAZÕNIA. A CONSTRUÇÃO DO FORTE DO PRESÉPIO - BELÉM - Como uma região
colonial periférica a Amazônia passa a fazer parte da civilização cristão
ocidental no momento em que a sociedade capitalista está vivendo sua fase
concorrencial, o que exigia o
exclusivismo comercial.
Para preservar o exclusivismo
comercial era necessário preservar a posse dos territórios descobertos e
proteger as edificações construídas. Para isso foram construídos os fortes,
fortalezas, quartéis, conventos, igrejas e etc...
Para iniciar o processo de
conquista definitiva da Amazônia aos doze dias do mês de janeiro do ano da
graça de mil seiscentos e dezesseis (1616), com a proteção de Nossa senhora da
Graça, o capitão Francisco Caldeira Castelo Branco lançou as bases do fortim
que iniciava a construção da cidade que se chamou Feliz Lusitânia. O forte
chamou-se presépio, e no seu interior foi construída uma capela para o culto de
sua guardiã, Nossa Senhora da Graça.
Belém, pela sua posição
estratégica transforma-se no baluarte para o enfrentamento dos inimigos
esternos franceses, ingleses e holandeses e também dos inimigos internos as
nações indígenas. Ao final das lutas entre os primitivos habitantes, os
Tupinambá e Pacajá, e os conquistadores portugueses, depois de afastados os
concorrentes holandeses, franceses e ingleses, a “Feliz Lusitânia” se
transformara e já era conhecida como Nossa Senhora de Belém do Grão-Pará.
Posteriormente, foi chamada de Santa Maria de Belém. Na atualidade, é
simplesmente Belém. Belém do Pará.
A partir do forte, Belém
começa a crescer em direção ao norte, as ruas foram sendo construídas
paralelamente ao rio. O interior foi sendo conquistado e ocupado por caminhos
transversais. No lado norte, os conquistadores foram construindo suas casas de
taipa, dando origem ao que hoje conhecemos como Cidade Velha. Para o lado sul,
dirigiram-se os Capuchos de Santos Antônio, onde às margens do Paraná-Guaçu
construíram o “Hospício” do Una.
Ainda na parte norte, saía o
igarapé Piry, que ia desaguar perto do forte, nas imediações da doca do
Ver-o-Peso. O Arsenal da Marinha foi construído lá pelas cabeceiras do igarapé
Piry. No local onde Bento Maciel possuía uma residência, foram construídos o
Convento e a Igreja de Nossa Senhora do Carmo, pelos carmelitas calçados. Atualmente,
os salesianos de Dom Bosco mantêm bravamente nesse local, o tradicional Colégio do Carmo para a educação
cristã da juventude.
Essas informações são
necessárias para reforçar a tese de que na verdade, não são apenas estruturas
militares, mas é todo, um conjunto de edificações e procedimentos para pôr em
funcionamento uma nova organização socioeconômica que se começava a construir.
Para alguns historiadores a
afirmação explícita da Amazônia como região de brasileiros se dá a partir de
1614, quando os luso-brasileiros, na sua maioria indígenas, expulsam os
franceses que tentaram apoderar-se do Maranhão e em seguida constroem o forte
do presépio, sob cuja proteção se iniciaria o processo de integração da
Amazônia ao incipiente modo de produção capitalista. Estes fatos estão na
gênese de todo um sentimento de brasilidade que estava se formando na mente e
nos corações daqueles que habitavam estas terras.
O PROCESSO DE DOMINAÇÃO E COLONIZAÇÃO
DA AMAZÕNIA. A CONSTRUÇÃO DO FORTE DE SÃO JOSÉ DA BARRA DO RIO NEGRO – MANAUS.
Para consolidar o processo da conquista definitiva da Amazônia e preservar a
posse luso-brasileira, sobretudo da Amazônia Ocidental foi fundamental a
construção do Forte de São José da Barra do Rio Negro.
A região do Rio Negro desde
os primeiros contatos com os europeus foi considerada uma região estratégica.
A partir da expedição de
Francisco de Orellana em 1542, frei Gaspar de Carvajal, capelão da expedição
referiu-se ao Rio Iquiari com o nome de Rio Negro que ficou até os dias atuais.
Vejamos a seguir como Frei Gaspar de Carvajal descreve a “descoberta” do Rio
Negro em sua obra "Relación del
descubrimiento del famoso río Grande que dese su nacimiento hasta el mar
descubrió el Capitán Orellana en unión 56 hombres":
No sábado, véspera da Santíssima Trindade,
mandou o Capitão fundear em uma povoação onde os índios se puzeram em defesa.
Apesar disso os expulsámos de casa e nos provimos de comida, achando ainda
algumas galinhas. Nesse mesmo dia, saindo d’ali, prosseguindo a nossa viagem,
vimos uma boca de outro grande rio, à mão esquerda, que entrava no que
navegávamos, e de água negra como tinta, e por isso lhe puzemos o nome de Rio
Negro. Corria ele tanto e com tal ferocidade que em mais de vinte léguas fazia
uma faixa na outra água, sem misturar-se com a mesma. Ainda nesse dia vimos
outras povoações não muito grandes. No domingo da Santíssima Trindade descansou
o Capitão com a sua gente nos pesqueiros de um povoado que estava numa lomba,
encontrando-se aí muito peixe, que foi socorro e grande alegria para os nossos
espanhóis, pois havia dias que não descansávamos. Estava esta povoação situada
em uma lomba afastada do rio, como em fronteira de outros povos que lhe faziam
guerra, pois estava fortificada por uma muralha de grossos troncos. Quando os
nossos companheiros subiram para tomar comida, os índios a quizeram defender e
se fizeram fortes dentro daquela cerca, que não tinha mais de uma porta,
havendo-se com bravura. Mas como nos víamos em necessidade, resolvemos
atacá-los e, nessa determinação acometemos pela dita porta, entrando sem nenhum
risco. Os companheiros pelejaram com os índios até desbaratá-los e logo
recolheram a comida, que havia em quantidade. (Gaspar
de Carvajal, Alonso de Rojas, Cristóbal de Acuña. Descobrimentos do Rio das
Amazonas. [1981], p. 50,51).
Excedendo os limites
territoriais de suas observações e ultrapassando a visão dos acontecimentos do
momento, o capelão da expedição de Pedro Teixeira frei Cristóbal de Acuña
percebeu em 1639 que o território dominado pelos Manaus era uma área
estratégica para proteger e defender a Amazônia da cobiça dos concorrentes
holandeses e ingleses que estavam ao norte dessa região e que desejavam descer
para participar dos empreendimentos que se realizavam naquele território com as
várias nações indígenas.
A esse tempo o rio Iquiari
era também conhecido como o Rio do Ouro e nas proximidades dessa região estaria
o país do El Dorado e a Cidade de Manoa próxima ao lago Parima, onde se dizia
haver grande quantidade de ouro de tal modo que os guerreiros vencedores eram
premiados com um banho de ouro em pó sobre seus corpos nus.
Segundo observações de
missionários e de outros viajantes que passaram por esse território a partir da
segunda metade do século XVII havia um comércio intenso praticado pelas nações
indígenas com estrangeiros, sobretudo com os holandeses.
Essa área de livre comércio
liderada pelos Manaus abrangeria o território das antigas guianas (holandesa e
inglesa) delimitada informalmente desde o Rio Orenoco até a região do Rio
Madeira.
Observam os cronistas dessa
época que os indígenas não queriam mais negociar com os portugueses porque as
mercadorias e quinquilharias ofertadas pelos holandeses e ingleses eram bem
melhores.
Fica evidente que esse quadro
de eventos, fatos e descrições fantasiosas despertava nas pessoas sentimentos
de enriquecimento rápido e fácil e de qualquer jeito atraindo para a região
aventureiros de todas as espécies. É claro que os colonos portugueses não
poderiam deixar de participar desses negócios e sobretudo o rei de Portugal não
poderia deixar de arrecadar impostos para a Fazenda Real.
Explicitando mais ainda fica
evidente também que essa área de livre comércio liderada pelos Manaus passa a
ser uma área estratégica para a defesa do território, controle das atividades
econômicas enfim para o resguardo do exclusivismo colonial em relação à Amazônia
e especialmente do Rio Negro.
Particularmente os holandeses
não desistiam de marcar presença no Brasil e na Amazônia. Aqui na Amazônia os
holandeses instalaram um forte no estuário do Rio Essequibo e em 1621 fundaram
a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais.
Essa companhia passa atuar na
região criando sua rede de colaboradores corrompendo os chefes das nações
indígenas nesse escambo hediondo de índios e negros escravizados por
quinquilharias, armas e outras mercadorias.
Os Manaus combateram a nação indígena
dos Karinya e dos Akawaio que fizeram parte da rede de
colaboradores dos holandeses, por esse motivo, em 1724 o Conselho Político de
Essequibo ordena o extermínio dos Manaus e que os prisioneiros fossem vendidos
como escravos. O Conselho Político de Essequibo premiava quem matasse um
manaus.
Ajuricaba e seus guerreiros
manaus lideraram uma coalisão de chefes de nações indígenas no enfrentamento à
invasão e ocupação de seus territórios, no saque aos seus recursos naturais e
na redução das populações indígenas à condição de escravos.
Todos esses fatos
contrariavam os interesses do Rei de Portugal e particularmente os interesses
imediatos dos colonos portugueses aqui na Amazônia.
Os colonos portugueses
irritados com os índios e incapazes de dar combate aos seus verdadeiros
inimigos e concorrentes os holandeses, ingleses, franceses e espanhóis na
disputa pela força de trabalho dos índios e pelos recursos da floresta
conseguiram do Conselho das Missões autorização para fazer uma “guerra justa”
contra os manaus e seus aliados.
O motivo para fazer “guerra
justa” contra os Manaus foi a acusação de que Ajuricaba seria aliado dos
holandeses e que navegava pelos rios ostentando a bandeira da Holanda. Já vimos
anteriormente que os manaus não tinham nenhuma razão para se aliarem aos
holandeses o que não impediria de esporadicamente fazer algum negócio com algum
holandês. O fato é que o Conselho das Missões votou pela autorização da “Guerra Justa” contra os manaus e seus
aliados e a captura de Ajuricaba.
Legitimados pelo Conselho das
Missões e munidos de todos os recursos necessários o governador João Maya da
Gama recomenda ao capitão João Paes do Amaral uma “guerra dura”.
Na verdade, esta operação
bélica contra os manaus ocorreu em setembro de 1727, em uma localidade
conhecida na época como Ponta do Azabari, nas proximidades do encontro das
águas do Rio Negro com o Rio Amazonas.
Ajuricaba viu seu filho
Cucunaca ser assassinado pelos portugueses durante os combates. Juntamente com
Ajuricaba foram mortos os caciques: Aguaru, Canacury, Cany, Caramery, Daã,
Gaau, Juabay, Majury, Manatuba, Mandary e mais duzentos índios que seguiriam
acorrentados para serem devidamente justiçados em Belém.
Logo no início da sinistra
viagem Ajuricaba rebelou-se contra seus algozes no que foi seguido pelos seus
companheiros resultando na morte de todos esses guerreiros Amazônidas conforme
relato do governador Maia da Gama:
"Quando Ajuricaba estava vindo como
prisioneiro para a cidade de Belém, e ainda estava navegando no rio, ele e
outros homens levantaram-se na canoa onde estavam sendo conduzidos agrilhoados
e tentaram matar os soldados. Estes sacaram de suas armas e feriram alguns
deles e mataram outros. Então, Ajuricaba saltou da canoa para a água com um
outro chefe e jamais reapareceu vivo ou morto. Deixando de lado o sentimento
pela perdição de sua alma, ele nos fez uma grande gentileza libertando-nos dos
temores de sermos obrigado a guardá-lo".
Fica claro que Ajuricaba
cacique dos manaós e todos os outros dez caciques das tribos aliadas lutaram
até a morte na defesa de seus territórios. Houve luta, e luta heroica. Mesmo
acorrentados Ajuricaba e seus guerreiros manaus não se acovardaram e lutaram
contra os soldados portugueses sobretudo na defesa dos eternos valores
inscritos na mente, no coração, no peito e na vontade de todos os povos:
liberdade e autodeterminação.
O rei de Portugal Dom João V
agradeceu ao governador do Pará João Maya da Gama pelos bons e leais serviços
prestados à coroa portuguesa pelo extermínio de Ajuricaba e dos outros dez
caciques de tribos aliadas.
A partir dessa matança dos
chefes e mais duzentos guerreiros foi eliminado o fator manaós, a tribo líder
do Rio Negro, ficando mais fácil o trabalho de buscar e escravizar os índios
pelos colonos portugueses. Na verdade, essa matança dos manaus e de outras
nações indígenas na Amazônia é mais um crime de lesa-humanidade que até hoje
clama por justiça.
A construção da região
amazônica resulta, portanto do embate de dois projetos de vida: FELIZ LUSITÂNIA
dos portugueses e A TERRA SEM MALES dos indígenas amazônidas, idênticos nas
suas concepções pois, ambos buscavam a felicidade, mas completamente diferentes
nas práticas e procedimentos para a consecução de seus objetivos.
O fato é que a região do Rio
Negro foi considerada estratégica para a defesa do território e será nas
proximidades de sua foz com o Rio Amazonas que será construído o forte de São
José da Barra do Rio Negro.
Por ordem do Governador e
Capitão Mor do Pará Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho, a partir de 1669
o Capitão Pedro da Costa Favela dá início a construção da lendária Fortaleza de
São José da Barra do Rio Negro disposta em uma área onde as nações indígenas
enterravam seus mortos.
Manaus começa a ser
construída e se desenvolve em cima de cemitérios das nações indígenas que em
vários momentos de sua expansão ressurgem do âmago de seus territórios
lembrando às gerações atuais as suas raízes e os embates com os colonizadores.
Assim é que surge a Praça da Saudade, a Praça da Polícia, a Cidade Nova e
etc....
A partir da fortaleza
construíram-se edificações que resultaram na formação do “Lugar da Barra”, que
posteriormente seria a sede da Comarca de São José do Rio Negro.
O Lugar da Barra teve outras
denominações até a criação da Província do Amazonas quando recebe o nome atual
de Cidade de Manaus.
Manaus surge então como lugar
estratégico para fomentar e controlar o comércio e sobretudo para a defender a
soberania dos portugueses sobre o território amazônico das ameaças de seus
concorrentes vindos através do Rio Negro e do Rio Solimões.
Complementando essas
afirmações deve-se acrescentar que o Rio Negro por essa época ainda concentrava
numerosas nações indígenas, e, nessa área em questão destacavam-se os manaós,
os baré, os passé, os tarumâ, os baniua e outras tantas nações indígenas vindas
de outros rios que organizadas pelos Carmelitas foram a mão-de-obra utilizada
na construção da fortaleza e que interagindo e miscigenando-se com os
portugueses e outros mais deram origem ao núcleo populacional do Lugar da Barra,
acrescido de um novo seguimento social regional que ficou conhecido como
cabocos.
Pela sua localização
geográfica, e sobretudo pela presença atuante das missões religiosas e dos
funcionários públicos e colonos portugueses o Lugar da Barra, funcionou também
como centro de recrutamento, controle e concentração da força de trabalho
indígena. Nesse sentido o Lugar da Barra fez parte da logística de apoio às
tropas portuguesas que promoviam “as
guerras justas”, “os descimentos”, e os “resgates”
e que atuaram no Rio Madeira, no Rio Japurá e no Rio Solimões acima chegando
até a tríplice fronteira do Peru e Colômbia, sempre com o objetivo de capturar
e escravizar os indígenas.
Em sua viagem em 1637 Pedro
Teixeira teve oportunidade de verificar a situação dos fortes que tinham sido
construídos até aquela data ao longo do Rio Amazonas. Em documento intitulado “Relatório do General Pedro Teixeira do Rio
das Amazonas para o Senhor Presidente (Relazion del General Pedro Tejeira deel
rio delas Amazonas para el Sor Presidente) Pedro Teixeira observa o
seguinte:
“La
segunda Fortaleza, éstá situada en él Curupa Zient leguas de la Ciudade de
Velen... ésta Fortaleza de el Curupá, tiene fama no defiende cosa ninguna por
estar sobre una gran barranca, és solamente para conservazion delos Indios
horros, que por alli zercano viven, y para correr la costa de el cabo del
Norte, por donde de contino entran los enemigos a pobiar y comerzear con los
âruacas, araguoazis, comaus”. (CORTESÃO, Jaime, 1965).
É certo que estas observações
foram consideradas pelas autoridades portuguesas, e, o que se constata
historicamente, é que o governo português operou no sentido de dotar as
fronteiras com equipamentos necessários para a defesa do território surgindo
assim essas estruturas de edificações militares que até hoje asseguram a
soberania brasileira sobre a Amazônia.
Constata-se na atualidade que
os atuais investimentos feitos na Amazônia obedecem à mesma lógica de mantê-la
como região colonial. Os grupos empresariais capitalistas e os empreendedores
de sucesso condicionam seus investimentos aos incentivos fiscais.
O Estado continua associado
aos interesses privados, bancando a maior parte dos investimentos, transferindo
recursos públicos para investidores privados. Tudo feito com a ideologia do
desenvolvimento sustentável defendida pelos cientistas que se colocam a serviço
da atual expansão capitalista no mundo.
A construção da atual região
amazônica resulta, portanto do embate inicial histórico/geográfico entre dois
projetos de vida: FELIZ LUSITÂNIA dos portugueses e A TERRA SEM MALES dos
indígenas amazônidas, idênticos nas suas concepções pois, ambos buscavam a
felicidade, mas completamente diferentes nas práticas e procedimentos para a
realização de seus objetivos.
EXPANSÃO
DAS ESTRUTURAS MILITARES DA
AMAZÔNIA A PARTIR DA FUNDAÇÃO DE BELÉM E MANAUS - O Forte do Castelo do Senhor
Santo Cristo do Presépio de Belém que deu origem ao povoado de Nossa Senhora de
Belém do Grão-Pará, posteriormente chamado de Santa Maria de Belém e que na
atualidade, é simplesmente Belém, Belém do Pará consolidou-se como base para a
expulsão dos concorrentes franceses, ingleses, irlandeses e sobretudo dos
holandeses.
Os
competidores estrangeiros foram sendo afastados até que em 1633 o Capitão-mor
Feliciano Coelho de Carvalho ordena aos capitães Aires de Sousa Chinchorro e
Pedro Baião de Abreu atacarem o lendário Forte de Cumaú, artilhado com sete
peças de ingleses e holandeses que servia de armazém de drogas do sertão,
gêneros alimentícios e de armas e munições.
No dia
nove de julho de 1632 o Capitão Pedro Baião com dez soldados e 250 índios
flecheiros tucujus, atacam e dominaram o forte de Cumaú.
Em
quatorze de julho de 1632 o comandante do forte do Cumaú Roger Fray é abordado
pelo capitão Ayres Chinchorro, quando entram em violenta luta resultando na
morte de Roger Fray. A partir deste fato os ingleses desistem de suas
pretensões sobre a Amazônia.
Afugentados
os inimigos e aparelhado o Forte do Castelo, que também ficou conhecido como
Forte do Presépio, Belém do Pará se firmou não só como uma base de defesa, mas
também como uma base de apoio para a expansão lusitana na Amazônia.
Nesses
primeiros momentos o sentido das ações portuguesas na Amazônia visava afastar
definitivamente os concorrentes, conhecer os recursos naturais e sobretudo
assegurar a posse para uma posterior exploração. Concretamente é um conjunto de
ações, como veremos posteriormente, que serão implementadas para garantir a
posse e a soberania portuguesa na Amazônia.
Neste
sentido de assegurar a posse e a soberania portuguesa sobre a Amazônia segue-se
uma sequência de construções de fortificações, fortalezas, fortes, fortins ao
longo do Rio Amazonas.
Assim é
que em 1623 se implanta a Fortaleza de Santo Antônio de Gurupá que deu origem a
cidade de Gurupá.
Em 1638
surge o Forte do Desterro que deu origem a cidade de Monte Alegre.
Em 1697
foi estabelecida a Fortaleza do Tapajós que cria as condições para o
desenvolvimento da cidade de Santarém.
Entre os
anos de 1698 e 1758 consolidou-se a fortaleza de Pauxis dando origem a cidade
de Óbidos.
Foi
importante também a construção do Forte Paru, também referido como Forte de
Almeirim, localizado à margem esquerda da foz do rio Jenipapo ou rio Paru,
afluente da margem esquerda do rio Amazonas, onde se localizava o aldeamento do
Paru, fundado por frades capuchos de Santo Antônio, ao qual se uniram os
indígenas do rio Uacapari. O governador Francisco Xavier de Mendonça Furtado
elevou o aldeamento do Paru à categoria de Vila com o nome de Almeirim a 22 de
fevereiro de 1758.
Em 1770,
próximo ao Rio Javari surge o Forte São Francisco Xavier que dará origem a
cidade de Tabatinga.
ESTRUTURAS
MILITARES NA TRÍPLICE FRONTEIRA
BRASIL,
COLÔMBIA E PERU
TABATINGA
- Argila sedimentar branca untuosa com certo teor de matéria orgânica, no tupi
significa barro branco ou esbranquiçado, de muita viscosidade disponível em
grande quantidade nos fundos do rio Solimões e afluentes. No tupi-guarani
significa casa pequena. Este recurso natural dá nome a um município do interior
do estado do Amazonas na Microrregião do Alto Solimões na tríplice fronteira
entre o Brasil, Colômbia e o Peru.
Os
historiadores se queixam da falta de documentação primária para reconstruir a
história e a geografia de Tabatinga envolta em controvérsias.
Igualmente controversa
é a história de Letícia, a cidade colombiana que faz fronteira com Tabatinga É
de domínio público que
Letícia teria surgido com a morte de fome de exploradores portugueses naquele
local do rio. Conta-se que para evitar a cobiça da Colômbia o Peru resolveu
colonizar a área encontrando naquele local uma cruz com a inscrição "San Antonio", que deu origem
ao primeiro nome da cidade.
Fundada como um porto
fluvial a 25 de Abril de 1867 pelo engenheiro peruano Benigno Bustamante com nome de
Santo Antônio, em 15
de dezembro do mesmo ano, o
engenheiro Manuel Charón mudou o nome para Leticia, em homenagem a uma mulher peruana
de Iquitos chamada Leticia Smith. Também pode ter sido uma homenagem
a Santa Letícia, dizem outros.
Quanto à Tabatinga no Brasil,
a partir de documentação
primária publicada em edição fac simile pela Universidade Federal do Amazonas: “Cartas do primeiro Governador da Capitania
de São José do Rio Negro Joaquim de Mello e Póvoas 1758-1761 Transcrições
Paleográficas” foi possível fundamentar algumas questões.
Na
referida publicação consta a Carta Régia com data de 03 de março de 1755, de
Dom José I, criando a Capitania de São José do Rio Negro com sede
administrativa na boca oriental do Javari, conforme transcrição parcial a
seguir:
“Francisco
Xavier de Mendonça Furtado, Governador, e Capitão General do Gram Pará e
Maranhão, Amigo, Eu El Rei vos envio muito saudar. Tendo consideração ao muito
que convém ao serviço de Deos, e meu, e ao bem comum dos meus vassalos
moradores nesse Estado, que nélle se augmente o numero dos Fieis alumiados das
Leis do Evangelho, pelo próprio meio da multiplicação das Povoações civis e
decorosas: para que atrahindo a si os Racionais, que vivem nos vastos sertões
do mesmo Estado separados da Nossa Santa Fé Catholica, e até dos dictames da
mesma Natureza: E achando alguns délles na observância das Leis Divinas, e
humanas, socorro e descanço temporal e eterno sirvão de estimimulo aos mais que
ficarem nos mattos, para que imitando tão sudaveis exemplos, busquem os mesmos
benefícios: e attendendo a que aquella necessária observancia de leis, senão
conseguirá para produzir tão uteis efeitos se a vastidão do mesmo Estado que
tanto difficulta os recursos ás duas capitães do Gram Para e de São Luiz do
Maranhão senão se subdividissem em mais alguns Governos a que as partes possam requerer
para conseguirem que se lhes administre justiça com maior brevidade, e sem a
vexação de serem obrigados a fazer tão longas, e penosas viagens, como agora
fazem. Tenho resoluto estabelecer um terceiro governo nos confins ocidentais
désse Estado, cujo chefe será denominado Governador da Capitania de São José do
Rio Negro.
[...] Para residência do mesmo Governador Sou servido mandar erigir
logo em Villa a Aldêa que mandei novamente estabelecer entre a boca Oriental do
Rio Javary, e a Aldêa de São Pedro, que administrão os religiosos de Nossa
Senhora do Monte do Carmo”. (UNIVERSIDADE
DO AMAZONAS. CEDEAM. Cartas do Primeiro Governador da Capitania de São José do
Rio Negro. Joaquim de Mello e Póvoas – 1758- 1761. p. 69, 1983).
Em outro
documento constante da publicação citada anteriormente intitulado “Registro da Patente de Coronel dada a
Joaquim de Mello e Póvoas, Governador da Capitania de São José do Rio Negro”
de 14 de julho de 1757 Dom José I “cria
de novo o Governo de São José do Javari e atendendo a qualidade, merecimentos e
serviços que concorrem na pessoa de Joaquim de Mello e Póvoas, hei por bem
nomealo Coronel Governador da mesma Capitania”. (UNIVERSIDADE DO AMAZONAS.
CEDEAM. Cartas do Primeiro Governador da Capitania de São José do Rio Negro.
Joaquim de Mello e Póvoas – 1758- 1761. p. 81, 1983).
Um outro
documento que esclarece a consolidação da sede da Capitania de São José do Rio
Negro é a carta de Joaquim de Mello e Póvoas narrando a viagem que fez
juntamente com Francisco Xavier de Mendonça Furtado governador do Estado do
Grão-Pará e Maranhão e de sua chegada ao arraial do Rio Negro, e a sua posse na
Villa de Barcellos, carta com data de 4 de julho de 1758.
Existem
outros documentos que tratam de questões relativas a Capitania de São José do Rio
Negro mencionando equivocadamente São José do Javari. Como já mencionamos
anteriormente a própria Carta Régia de 03 de março de 1755 que cria a Capitania
de São José do Rio Negro diz expressamente: “Para residência do mesmo Governador sou servido mandar erigir logo em
Villa a Aldea de que mandei novamente estabelecer entre a boca Oriental do Rio
Javari e a aldêa de São Pedro, que administrão os religiosos de Nossa Senhora
do Monte do Carmo”.
O fato
histórico concreto é que o governador do Estado do Grão-Pará e Maranhão dá
posse ao primeiro governador da Capitania de São José do Rio Negro na antiga
aldeia de Mariuá que passou a condição de “Villa de Barcellos”.
É
possível admitir que o governador do Estado do Grão-Pará e Maranhão, Francisco
Xavier de Mendonça Furtado, irmão do Marquês de Pombal levou em consideração as
ponderações a respeito deste assunto, constantes na carta que lhe foi dirigida
pelo Frei Miguel de Bulhões, datada de 13 de maio de 1755:
“A
capital deve ser fundada no meyo do mesmo governo; a aldeia, com seus
edifícios, está pronta, sem necessidade de gastar mais tempo ou dinheiro; o
Javari pela imensa praga que tem, é indigno de ser moradia perpétua de um
governador, ao contrário do Rio Negro; estando os governadores aí, poderão
acudir e socorrer todas as povoações; podem difilcultar o comtrabando de
índios; e a sétima finalmente porque atendendo a comunidade do sítio achará
S.Mag. vassalos que o sirvão nesse governo com gosto, honra e préstimo, o que
talves, ficando ele estabelecido no Javari, antes pela inclemência da praga
ficará reputado o tal governo, como o de
Cabo Verde e S. Thomé”. (Cf. J.
Nabuco. Documentos de Origem Portugueza.Vol 1. P. 78-80).
Não foi
descoberto até a presente data (2017) documentação que explique essa mudança tão
importante contrariando ao que consta na Carta Régia de 03 de março de 1755.
Na
verdade, a Vila de Mariuá, segundo o historiador amazonense Artur Reis já vinha
recebendo várias benfeitorias para abrigar as comissões espanholas instituídas
pelo Tratado de Madri de 1750 que se uniriam às comissões portuguesas para
definirem as fronteiras entre estes dois reinos aqui na Amazônia.
Novas
ruas foram abertas; uma grande praça foi construída e uma plataforma para
acostamento de barcos e para embarque
e desembarque de passageiros; e, complementando estas providências foi
construído também um armazém. Do mesmo modo a igreja e o seminário dos carmelitas receberam
benfeitorias. Foram construídas casas para abrigar os familiares dos membros das
comissões além de três quartéis.
Foi no ano de 1766 que o Governador do Grão-Pará
e Maranhão, o Capitão General Fernão da Costa de Ataíde Teive Sousa Coutinho
mandou organizar um Posto de Inspeção das embarcações que faziam comércio com o
povoado espanhol de San Pablo de Loreto no Peru. Um destacamento militar do Rio
Javari foi movimentado
para constituir um Posto de Guarda de Fronteira ao lado de uma aldeia
construída por jesuítas, provavelmente, em 1710, segundo registrou Antônio
Porro em “As Crônicas do Rio Amazonas”. O Forte foi desativado em 1889. Voltando
a ser a ser reativado em 1910, quando
novamente tropas regulares voltaram a assumir esse posto, agora com o nome de
Contingente Especial de Tabatinga.
O
desenvolvimento das relações econômicas e sociais com a povoação de San Pablo
de Loreto, do Peru, deu origem a várias povoações entre as quais se destacaram
Vila Ipiranga e Vila Bitencourt. A povoação de São Francisco Xavier de
Tabatinga foi a que mais prosperou e se desenvolveu de tal modo que passados dez
anos, em 1776 o Governador da Capitania de São José do Rio Negro, Coronel
Joaquim de Melo e Póvoas ordena ao Sargento-mor Domingos Franco iniciar a
construção do Forte de São Francisco Xavier de Tabatinga.
A Tabatinga atual, está
localizada no meio da selva amazônica, à margem esquerda do Rio Solimões faz
fronteira com a Colômbia e o Peru. Possui uma área de 3.239,3 km². Além do Rio Solimões,
Tabatinga é banhada pelos rios, Içá, Japurá e vários de seus afluentes, tais
como: Hapapóris, Traíra, Puretê, Puruê e Cunha. Há duas grandes ilhas fluviais
próximas a cidade: Santa Rosa - Peru e Aramaçá. Praticamente os rios continuam
sendo as vias de maior utilização para movimentação das pessoas e de
mercadorias.
DE POSTO DE GUARDA DE
FRONTEIRA A COMANDO DE FRONTEIRA DO
SOLIMÕES - Após sua fundação o Forte São Francisco Xavier de Tabatinga, passou
a exercer todas as suas funções: evitar as invasões dos espanhóis no território
luso-brasileiro, combater o comércio ilícito das drogas do sertão, evitar a
presença dos missionários jesuítas a serviço do Rei da Espanha, marcar os
limites e assegurar a soberania luso-brasileira naquelas fronteiras.
O Forte de São Francisco Xavier de Tabatinga foi desativado em 1889 voltando a ser reativado em 1910 quando tropas regulares voltaram
a assumir esse posto, agora com o nome de Contingente Especial de Tabatinga.
Em 1933, por conta da
mediação do Brasil na questão entre Colômbia e Peru pela posse do território do
departamento de Amazonas da Colômbia cuja capital é Letícia ocorreu uma grande
concentração de tropa, com a presença do 21° Batalhão de Caçadores (BC), do 23°
BC, do 27° BC e, ainda, de tropas de Artilharia de Natal e do Cruzador São
Paulo. Em 1934, foi celebrado um
tratado entre a Colômbia e o Peru, que deu a soberania colombiana sobre aquele
território.
Em 1949, o Forte foi
transformado em 5° Pelotão de Fronteira. Em 1967, foi criada a Colônia Militar
de Tabatinga.
Em 1969, foi criado o Comando
de Fronteira Solimões/1° Batalhão Especial de Fronteira.
Em 1992, foi criado o
atual Comando de Fronteira Solimões/8° Batalhão de Infantaria de Selva -
CFSol/8° BIS.
Em
27 de julho de 1983, de acordo com a Lei Complementar Nº 284/85, aprovada pelo Congresso Nacional, foi
criado o Município de Tabatinga, extinguindo-se a Colônia Militar.
O atual status político
de Tabatinga resulta de longa luta política de seus cidadãos comprometidos com
o crescimento e desenvolvimento de seu torrão natal.
O 8º BIS está
subordinado à 16ª Brigada de Infantaria de Selva, localizada em Tefé tem sob
sua responsabilidade uma faixa de fronteira de 1.632 km, onde estão instalados
quatro Pelotões Especiais de Fronteira (PEF). Ao norte, nas proximidades de La
Pedrera, na Colômbia, está instalado na entrada do rio Japurá o 3º PEF – Vila
Bittencourt. Logo abaixo, na embocadura do rio Içá está localizado o 2º PEF –
Ipiranga. Na fronteira com o Peru, às margens do rio Javari, estão o 1º PEF –
Palmeiras do Javari e o 4º PEF – Estirão do Equador.
Destacamos que esta
unidade militar, CFSol/8° BIS já registra nos anais de sua história uma página marcada
pelo heroísmo de seus soldados.
Em fevereiro de 1991
ocorreu um grande ataque das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia
-
Farc ao Brasil, quando 40 guerrilheiros autodenominados Comando Simão Bolívar -
Facção Força e Paz invadiram o Destacamento do Traíra do Pelotão Especial de
Vila Bittencourt baseado às margens do Rio Traíra, roubando uma grande
quantidade de fuzis, metralhadoras e munição, mataram ainda três soldados brasileiros
e deixaram 29 feridos.
O presidente do Brasil
autorizou revide e o Exército Brasileiro recuperou parte das armas. Os três
Infantes de Selva que tombaram no cumprimento do dever de defender a soberania
brasileira na Amazônia são: Sd Sansão Ramos Gonçalves, Sd Aldemir Lopes de Oliveira
e Sd Sidimar Fonseca Moraes, confirmando e reafirmando a disposição e o ânimo
de nossos ancestrais na defesa e proteção de nossa integridade territorial. A
partir desse episódio as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia não
voltaram mais a atacar.
O Forte de São
Francisco Xavier de Tabatinga está na base das estruturas militares que deram
início a defesa do atual território brasileiro no alto Solimões. Os fortes
coloniais, mutatis mutandis, não
diferem dos objetivos da implantação dos atuais Pelotões Especiais de
Fronteira. asseguraram e asseguram a
“Consolidação do território conquistado, a exploração
econômica da região e o domínio dos direitos de navegação na bacia do Rio
Amazonas. Para Portugal conquistar a soberania dessas novas fronteiras, foi
primordial a sua ocupação por militares, exploradores e religiosos. Como
exemplo bem-sucedido dessa iniciativa, temos a Fortaleza de São José da Barra
do Rio Negro, criada em 1669, no local onde atualmente situa-se a cidade de
Manaus.(Gal.G.Theophilo.https://www.facebook.com/GeneralExercitoTheophilo/posts/1684438255175296).
OS
PELOTÕES ESPECIAIS DE FRONTEIRA (PEF) - Dispor unidades militares
estrategicamente ao longo de um grande território, para o exercício do poder, é
uma prática que remonta aos romanos. Após anos de conquistas foi necessário
transformar as legiões romanas em tropas permanentes e fixadas em posições que
possibilitassem defender o território, controlar as pessoas e as atividades
políticas, sociais e econômicas que se desenvolveram no grande Império Romano.
É
interessante observar que com as ameaças das invasões dos bárbaros o Imperador
Diocleciano organizou o exército Romano em: “Unidades de Fronteira” e “Unidades
de Campo”. Estas “Unidades de Campo” eram constituídas por soldados bem
treinados e bem armados podendo deslocar-se rapidamente para qualquer parte do
território onde fosse necessário para cumprir missões ofensivas ou defensivas.
Segundo
o General Guilherme
Theophilo “... o aperfeiçoamento das doutrinas de
defesa, aliadas às novas realidades socioeconômicas e tecnológicas, permitiu a
evolução das antigas fortalezas do século XVII para os atuais Pelotões
Especiais de Fronteira (PEF)”.
Os atuais Pelotões Especiais de
Fronteira, nas palavras do General Guilherme Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, ex-comandante
militar da Amazônia têm a nobre e heroica
missão de defender nossos limites das diversas ameaças, que se apresentam todos os dias. Além de
representar o Estado Brasileiro nas comunidades onde estão instalados, essas
tropas contribuem para o desenvolvimento e povoamento dessas regiões.
Estas
são as missões do Comando de Fronteira Solimões/8° Batalhão de Infantaria de
Selva:
- Manter a presença;
- Exercer a vigilância;
- Proporcionar o alerta oportuno.
Vida, Combate e Trabalho são os alicerces a partir dos quais se constrói a vida em um Pelotão Especial de Fronteira. É a
chamada tríade da soberania que gera proteção, desenvolvimento sustentável e
cidadania.
A Vida de um Pelotão Especial de Fronteira (PEF) é semelhante à das outras Unidades do
Exército: atividades administrativas, serviço de escala, solenidades
cívico-militares, hasteamento da Bandeira Nacional, canto do hino
nacional, instruções, treinamentos etc.
Do ponto
de vista estritamente militar, o Combate, o Pelotão Especial de
Fronteira deve assegurar a integridade e o bem-estar dos integrantes do Pelotão
e das comunidades vizinhas. Além disso são responsáveis por vigiar toda a
extensão da fronteira; identificar os pontos e vias de acesso; dar a primeira
resposta a qualquer ameaça à integridade do País. Se for necessário, os
pelotões podem receber reforço militar de todo o país em menos de 14 horas.
O Pelotão
Especial de Fronteira exerce também funções de polícia denunciando às
autoridades competentes ocorrência de práticas ilícitas; controlando
embarcações que navegam nos rios dentro de sua área; coibindo a passagem de
produtos ilícitos e crimes contra a flora e a fauna na faixa de fronteira;
realizando intenso patrulhamento em suas áreas e estabelecendo, postos de
bloqueio e controle de vias fluviais.
Em
muitos casos, os Pelotões Especiais de Fronteira são a única presença do Estado Brasileiro
naqueles locais isolados e esquecidos do nosso país o que leva os Pelotões Especiais de Fronteira exercerem
também funções supletivas em virtude
da grande carência de recursos e de serviços do Estado.
Nesse
sentido as estruturas militares existentes são abertas também ao atendimento da
comunidade civil na área de saúde, educação, atividades sociais, esportivas, de
lazer. Para a execução das tarefas referentes ao TRABALHO, o PEF possui uma infraestrutura que abarca algumas das
seguintes atividades: serralheria, carpintaria, oficinas de manutenção; além de
dispor de equipamentos de eletricista, bombeiro, carpinteiro e pedreiro. São
estas atividades que constituem o Trabalho de um Pelotão
Especial de Fronteira
etc.
Essas
atividades tem um momento especial quando da realização da conhecida Operação
Aciso, (Operação Cívico Social) na qual o Pelotão Especial de Fronteira planeja, lidera,
coordena e participa efetivamente de ações e serviços de saúde, educação e etc....em
benefício da comunidade local.
Estas
ações e serviços consistem em: atendimento médico, odontológico, distribuição
gratuita de medicamentos. Atendimento de cidadania fornecendo registro de
nascimento, carteira de identidade, carteira de trabalho. São feitas também
atividades culturais, esportivas, de lazer e outras mais.
Todas
estas atividades obedecem aos princípios norteadores do Manual de Ações Comunitárias do Exército Brasileiro. Segundo esses princípios
os participantes da Operação Aciso devem manter a tradição humanitária do
Exército Brasileiro nas suas relações com a população respeitando as tradições e
cultura locais; procurando a colaboração das lideranças; evitando paternalismos
e preparando os beneficiários para dar continuidade da participação da
comunidade nos momentos necessários.
Todas estas atividades
do Exército Brasileiro são amparadas pela lei complementar Nº 97 de 09 de junho
de 1999, que dispõe sobre as normas gerais para a organização, o preparo e o
emprego das Forças Armadas. Nas ATRIBUIÇÕES SUBSIDIÁRIAS consta: Cabe às Forças Armadas, como atribuição subsidiária
geral, cooperar com o desenvolvimento nacional e a defesa civil.
O General de Exército
Guilherme Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, comandante militar da Amazônia
atualiza o novo sentido para aqueles que atualmente vêm servir na Amazônia: “Tenho a certeza de que servir a Amazônia é
um privilégio, e lutar pelo seu desenvolvimento sustentável é uma obrigação”.
O testemunho daqueles
que têm vindo servir nas fronteiras seguem o mesmo sentimento do General
Theophilo Gaspar de Oliveira. Na verdade, servir na fronteira requer uma
formação e treinamentos específicos que são passados nas unidades em que os
militares servem.
A Tenente Médica Raquel
Lanna, do 4º Pelotão Especial de Fronteira, fala sobre as missões dos militares
e sobre o estágio de adaptação de vida na selva.
A Tenente Médica Raquel Lanna fala de sua
experiência no 4º Pelotão Especial de Fronteira (Santa Rosa do Purus/AC), do
Comando de Fronteira Acre/4° Batalhão de Infantaria de Selva, mas o relato dela
não é diferente do que se passa nos outros pelotões de fronteira e as
exigências são iguais para todos os militares de todas armas e serviços:
O
EAVS, que é o Estágio de Adaptação à Vida na Selva a gente passa acampado uma
semana recebendo instruções dentro de um ambiente de selva mesmo e no fim desse
treinamento a gente passa por pelo menos um dia de sobrevivência onde não
fornecem alimentos pra gente, onde a gente tem que construir o nosso próprio
acampamento e aí a gente constrói a nossa cama de mato e pedaços de madeira , a
gente tem que construir um abrigo pra poucos que a gente chama de rabo de jacu,
esse tipo de construção, e aí a gente tem que bater várias gaivotas. São várias
missões que são necessárias em um ambiente de selva mesmo. No caso por exemplo,
uma aeronave caiu, no caso de uma missão de selva que a gente fique sem receber
suprimentos , que a gente perca o nosso equipamento então a gente tem pelo
menos alguma chance de realmente sobreviver. (https://www.youtube.com/watch?v=12exFKXaUBo).
Atualmente na tríplice fronteira, Brasil,
Colômbia e Peru, o CFSol/8° BIS enquadra quatro Pelotões Especiais de Fronteira
(PEF):
1° PEF – Palmeiras do Javari, às margens do rio Javari;
2° PEF – Ipiranga, às margens do rio Içá;
3° PEF – Vila Bittencourt, às margens do rio Japurá;
4° PEF – Estirão do Equador, às margens do rio Javari.
Estes
Pelotões especiais de Fronteira defrontam-se e enfrentam a biopirataria,
garimpo ilegal, crimes ambientais e o plantio e tráfico internacional de
drogas.
Todas
essas atividades são desenvolvidas aproveitando ao máximo a malha hidroviária,
por isso todo transporte é feito através dos rios, ou aeromóveis, com o apoio
da Força Aérea Brasileira e ou do 4º Batalhão de Aviação do Exército por isso é
importante que o combatente esteja habilitado a realizar deslocamentos nadando,
e a operar embarcações com motores de popa e barcos a remo.
O
Combatente de Selva nas fronteiras da Amazônia, ainda tem de enfrentar as
doenças tropicais pois o clima quente e úmido da região é propício à infecção
por fungos e bactérias. Este singular teatro de operações é uma área endêmica
de tuberculose, leishmaniose e malária. Por isso, o militar deve estar com a
saúde em muito bom estado. O 8º BIS está dotado com equipamento padrão do
Exército Brasileiro, mas com as adequações necessárias à utilização no Teatro
de Operações da Amazônia.
Como
armamento utiliza-se o fuzil Para-FAL 7,62, o Fuzil Automático Pesado,
metralhadoras MAG 7,62 e Ponto 50. Estas últimas podem ser instaladas em suportes
existentes nas embarcações, o que dará um poder de combate maior durante uma
abordagem ou desembarque ribeirinho permitindo-lhe movimentos de pontaria,
limitando-lhe o recuo e facilitando-lhe o transporte.
Uma
novidade incorporada às operações de selva é a utilização do búfalo como meio
de transporte. O animal tem facilidade para atravessar rios, tendo capacidade
de subir aclives carregando uma carga de munição e armamento de até 400 kg. Em
ambiente de selva ele se alimenta de quaisquer folhas e em combate fica
tranquilo e não se assusta como outros animais, sendo o único meio de
transporte usado pelas tropas atualmente.
O 1° PEF – Palmeiras do Javari, às margens do rio
Javari tem suas origens ligada uma vila formada por seringueiros, Palmeiras do
Javari que surge a partir de 1940. O rio Javari navegável o ano inteiro se
apresenta como uma grande via de entrada para o Brasil. Era preciso implantar
uma fiscalização nessa faixa de fronteira.
Em
1º de setembro de 1955, o decreto nº 38.318, criou o 8º Pel Fron (futuro 1°
PFF).
Com
a finalidade de escolher o local para instalação do 8° Pelotão de Fronteira, foi
organizada a Operação Palmeiras do Javari, em 1961, deu-se- a presença militar
no local onde é atualmente o 1° Pelotão Especial de Fronteira.
A
proximidade com a cidade peruana de Colônia Angamos e a comunidade existente no
local, criou as condições para que o Seringal Palmeiras fosse escolhido para a
instalação do 1º PEF. Em janeiro de 1963, as obras foram iniciadas e
incorporado o primeiro contingente, e o Seringal Palmeiras do Javari localizado
às margens do Rio Javari emprestou seu nome ao 8º Pelotão de Fronteira, criado
em 1995, por meio do Decreto nº 38.318.
O rio
Javari, que serve de divisa entre Brasil e Peru é um afluente do Rio Solimões,
nasce na Serra do Contamana no Peru. Sua extensão é de cerca de 1.180 km. O
território a partir da margem direita pertence ao Brasil, onde encontramos os
Pelotões Especiais de Fronteira do Exército Brasileiro de Palmeiras do Javari e
Estirão do Equador e os municípios do Estado do Amazonas de Atalaia do Norte e
Benjamin Constant.
Nas suas
nascentes o Rio Javari chama-se rio Jaquirana até a confluência com o Rio Bara,
a partir de onde recebe o nome de Javari. O Rio Javari tem sua foz no município
de Atalaia do Norte onde tem três braços formados por duas ilhas, Islândia e
Petrópolis.
O 2° PEF – Ipiranga, às margens do rio Içá, na calha do Rio Solimões, tem suas
origens a partir de um pelotão destacado do Vigésimo Sétimo Batalhão de
Caçadores, o 27 BC, em 1934, cujas tradições foram herdadas pelo Primeiro
Batalhão de Infantaria de Selva sediado em Manaus. O Pelotão instalou-se na
localidade de Vila Nova do Tonantins, atual cidade de Tonantins.
Posteriormente este pelotão foi transferido
para a Comarca de Santo Antônio de Içá passando a denominar-se Pelotão Içá. Em
l952, por razões estratégicas este pelotão foi removido para o Rio Içá. Em 1956
suas instalações foram concluídas e recebeu o nome de Pelotão Especial de
Fronteira. O Pelotão recebeu o nome de IPIRANGA, por sugestão do Cel Inf José
Moacir Orestes de Salvo Castro, que foi comandante do Comando de Elementos de
Fronteira (CEF).
O 3° PEF – Vila Bittencourt, às margens do rio Japurá, também tem sua área
envolvida em estórias que dizem ter sido esta região utilizada pelos incas em
suas viagens pela região amazônica usando-a para se abastecerem com culturas de
curta duração.
Historicamente consta que com o início da
Segunda Guerra Mundial foram criados os pelotões de Içá na cidade de Santo
Antônio de Içá e o Pelotão Japurá na cidade do mesmo nome.
Em 1942, o 30 PEF foi transferido com
o nome de Pelotão Japurá para Vila Bittencourt, uma comunidade surgida nos anos
50 a partir da exploração de ouro na região.
Com a criação dos Grupos de Elementos de Fronteira (GEF) em
1950, em 1969 o pelotão passa a ser subordinado ao CFSol/1º BEF, atual CFSol/8º
BIS e em homenagem ao militar que fixou os marcos na região passa a
denominar-se 3° PEF – Vila Bittencourt.
4° PEF – Estirão do Equador, às margens do rio
Javari. Estirão
do Equador foi uma comunidade que
surgiu por volta de 1950 com o nome de Seringal Brasil por causa da grande concentração
de seringueiros na área.
Posteriormente
por causa de um igarapé chamado Equador
e pelo fato de que em frente ao pelotão o Rio Javari apresentar um longo trecho
retilíneo chamado de estirão, o
território da comunidade que ali se desenvolveu ficou conhecido como Estirão do Equador. O agravamento dos
conflitos entre “brancos”, seringueiros e as comunidades indígenas provocou o
abandono da área pelos seringueiros.
Para
iniciar o processo de colonização desta área e de guarnecer a linha de
fronteiras foi criado o 9º Pelotão de Fronteiras, o 9º Pel Fron.
Criando-se
em 10 de janeiro de 1969 o 1º Batalhão Especial de Fronteira com sede em
Tabatinga-AM, o 9º Pelotão de Fronteiras passa a ser a 1ª Companhia Especial de
Fronteira (1ª CEF), formada pelos pelotões de Japurá, Ipiranga e Palmeiras do
Javari.
A 1ª Companhia Especial de
Fronteira (1ª CEF), em fevereiro de 1986, transferiu seu posto de comando (PC)
para o 1º BEF, em Tabatinga.
Com esses quatro Pelotões Especiais de
Fronteira, nas condições acima descritas, o Exército Brasileiro através do
CFSol/8º BIS guarnece 1.632 quilômetros da nossa fronteira amazônica. Daí o
paradigmático lema:
“MARCAMOS OS LIMITES DA PÁTRIA. HÁ QUE SER
FORTE!”.
Conclusão - Os Pelotões Especiais de Fronteira são a
força mais avançada que os brasileiros dispõem na defesa de sua integridade
territorial, não apenas dão o primeiro combate aos inimigos e malfeitores da
convivência social, mas são ainda os pioneiros no fomento da educação, da saúde
da segurança enfim, ...da cidadania soberana dos brasileiros sobre seu
território na Amazônia.
Demonstramos que unidades militares dispostas ao longo de um grande
território, para o exercício da soberania como: assegurar a posse, cobrar
impostos, exercer a justiça etc. etc... é uma prática que remonta aos romanos.
Os portugueses, no período colonial, usaram-na com muito êxito aqui no Brasil
assentando as bases da soberania luso-brasileira nos territórios conquistados.
Como exemplificamos, particularmente na Amazônia, a maioria das cidades
se originou a partir de fortes cujos os exemplos mais expressivos e conhecidos
são Belém, no Pará e Manaus no Amazonas que se desenvolveram a partir do Forte
do Castelo do Senhor Santo Cristo do Presépio de Belém e do Forte São José da
Barra do Rio Negro respectivamente.
Historicamente no Brasil, particularmente na Amazônia, está comprovado
que os Pelotões Especiais de Fronteira são a melhor
tecnologia de geoestratégia militar
para a defesa da sua integridade territorial.
Também está provado que do ponto de vista geopolítico estas unidades militares, os Pelotões Especiais
de Fronteira, atualmente, são a tecnologia mais adequada para unir
militares e civis, soldados e paisanos, homens e mulheres, brancos, negros e
indígenas no exercício da cidadania sobre o território da Amazônia rumo ao desenvolvimento
sustentável do Brasil.
No Brasil é necessário ainda resgatar e destacar a participação das tribos
indígenas na preservação de sua soberania sobre seu território. Desde os
primórdios das lutas contra os invasores franceses, holandeses e ingleses.
Nas lutas mais importantes na defesa do atual território brasileiro
os guerreiros indígenas estiveram sempre presentes com seus arcos, flechas e
tacapes e ombreados com soldados luso-brasileiros com seus arcabuzes ou
mosquetes defenderam a integridade territorial do Brasil.
Assim é que na tentativa dos franceses de fundarem a França
Antártica no Rio de Janeiro comandados pelo almirante Nicolas Villegaignon; na
expulsão dos franceses de São Luís, que queriam implantar a França Equinocial
sob o comando do capitão de marinha Daniel de La Touche o apoio dos índios foi
decisivo para a vitória sobre os invasores.
Quanto aos ingleses já vimos que em julho de 1632 o Capitão
Pedro Baião com dez soldados e 250 índios flecheiros tucujus,
atacaram e dominaram o forte de Cumaú e que a partir deste fato os ingleses
desistem de suas pretensões sobre a Amazônia.
Deve-se enfatizar ainda que o braço forte das nações indígenas
também esteve presente e teve uma participação significativa e decisiva nas
batalhas que se sucederam naquilo que hoje é considerado “o terço sagrado do nosso exército
e da nacionalidade brasileira”, Guararapes. (1648/1654).
No dispositivo das tropas que defendiam o território luso
brasileiro nos Montes Guararapes “O
flanco direito era protegido pelo terço (ou grupamento) do índio Felipe
Camarão, oculto na restinga de mato existente dentro dos alagados”. Este
grupamento comandado pelo índio Felipe
Camarão também atuou pelo flanco esquerdo. “O flanco esquerdo holandês, atolado nos alagados, foi totalmente
destruído pelos índios de Felipe Camarão”. (http://www.7rm7de.eb.mil.br/index.php/batalha-dos-guararapes).
Não se pode apagar ou desconsiderar na história que a
luta pela defesa da Amazônia para o Brasil teve início com o Cacique Ajuricaba
e seus guerreiros manaós aliados às demais nações indígenas que viviam aqui
pelo Rio Negro.
Na Amazônia, a construção das estruturas militares, civis e
religiosas que permitiram a formação e funcionamento da sociedade regional
amazônica atual tem a forte participação das nações indígenas. Relembremos
apenas a construção dos fortes que deram origem as duas mais importantes
cidades da Amazônia brasileira Belém e Manaus.
Fortalezas, fortes, fortins,
quarteis, portos, palácios, Igrejas, conventos, e etc.… não sairiam dos
projetos sem o apoio efetivo, firme e forte da mão-de-obra indígena.
Deve-se ressaltar a fundamental e decisiva participação indígena
na Expedição Pedro Teixeira que definiu as fronteiras do Brasil na Amazônia
cuja área passou a representar 50% do território brasileiro. Sem o apoio logístico
dos 1200 índios que participaram de sua expedição, cumprindo as mais diversas
tarefas para o êxito da expedição, Pedro Teixeira jamais teria atravessado
sequer a Baía do Guajará. Essas são algumas dívidas que precisam ser resgatadas
pelo Estado Brasileiro para com as nações indígenas do Brasil e da Amazônia.
Podemos afirmar que as estruturas militares na Amazônia começam a
ser construídas a partir da chegada de Francisco Caldeira Castelo Branco a baía
do Guajará em 12 de janeiro de 1616 acompanhado de três embarcações e uns
duzentos homens.
Saídos que foram do Maranhão em 25 de dezembro de 1615, ainda sob a
influência das festas natalinas, à margem esquerda do igarapé Piri construíram
seus alojamentos com pedaços de paus e cobertos com palhas e artilharam o local
com doze peças o que ficou conhecido como: Forte
do Castelo do Senhor Santo Cristo do presépio de Belém.
Como demonstramos, o Forte do Castelo do Senhor Santo Cristo do
Presépio de Belém foi o primeiro de uma série de outras edificações militares
que se sucederam no tempo defendendo e desenvolvendo a Amazônia até as
instalações atuais do CMA.
A presença dos militares nas unidades de fronteira, desde os tempos
coloniais, deram aos militares que ali servem uma experiência que foi passando
de gerações em gerações e foi se acumulando de tal forma que atualmente o
Comando Militar da Amazônia é detentor não só dessa experiência de vida como
também de conhecimentos que lhe permite pensar e planejar as estratégias mais
eficientes para a defesa das fronteiras e para o desenvolvimento do território.
A instabilidade política dos países fronteiriços; o crescimento
extraordinário de atividades ilícitas de toda natureza e inclusive crimes
ambientais; o descaso dos sucessivos governos com
a assistência socieconômica e cultural às populações das cidades fronteiriças
que leva estas populações a buscar apoio nas organizações criminosas e os
conflitos e questões não resolvidos com as nações indígenas pedem uma atuação
mais resoluta da assessoria parlamentar do Ministério da Defesa na busca de
apoio dos outros ministérios em promover programas e projetos que levem a
melhoria da qualidade de vida e a geração de renda dos cidadãos
e das cidadãs das cidades fronteiriças,
deixando ao Ministério da Defesa aplicar seus recursos para os seus fins
constitucionais específicos.
Trará grandes consequências benéficas para as populações das
cidades fronteiriças a transferência para a Amazônia Ocidental da Comissão
Brasileira Demarcadora de Limites, sediada em Belém e da Sede da Organização do
Tratado de Cooperação Amazônica, OTCA, sediada em Brasília.
Temos consciência histórica e geográfica da luta, dos sacrifícios e
da determinação de nossos ancestrais, na
manutenção da soberania do Brasil sobre a Amazônia. Às gerações atuais cabe a
obrigação de lutar para o desenvolvimento do País das Amazonas como queriam os nossos antepassados cabanos: livre, justo, soberano e feliz.
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(Anexo)
MISSÕES DOS PELOTÕES
ESPECIAIS DE FRONTEIRA
Relato da 1ª Tenente
Médica Raquel Lanna, do 4º Pelotão Especial de
Fronteira (Santa Rosa do Purus/AC), do Comando de Fronteira Acre/4° Batalhão de
Infantaria de Selva, transposto do YouTube
(https://www.youtube.com/watch?v=12exFKXaUBo).
A
função dos Pelotões Especiais de Fronteira é justamente manter as nossas
fronteiras. Nós temos que estar presentes e verificar se não tem nenhum tipo de
ocupação estrangeira; se não estar virando uma rota de tráfico de Drogas. A
gente tem que ver se crimes ambientais não estão sendo praticados. Então, todos
os pelotões têm os marcos de fronteira a bater ao longo do ano.
Geralmente
são de dez a doze missões de reconhecimento de fronteiras, divididos entre os
três grupos de combate de cada pelotão.
Durante
o curso de EAS a gente aprende as coisas, as táticas básicas militares como
manusear uma pistola, como a gente deve se portar dentro de uma missão.... Então depois desses dois meses de treinamento agente deixa
finalmente a nossa vida civil e veste de uma vez por todas a farda verde oliva
e passa a incorporar esses ensinamentos na vida prática da gente.
São várias missões que são necessárias em
um ambiente de selva mesmo. No caso por exemplo, uma aeronave caiu, no caso de
uma missão de selva que a gente fique sem receber suprimentos, que a gente
perca o nosso equipamento então a gente tem pelo menos alguma chance de
realmente sobreviver.
Entre
as gaivotas a gente tem é o grupo da
água. Então nós temos que encontrar um curso de água e dentro desse curso de
água a gente tem que sinalizar qual vai ser a água usada para fazer os
alimentos, qual será a água usada pra banho, qual será a água usada para
excrementos, no caso pra lavar os objetos de cozinha.
Então,
em primeiro lugar a gente tem que retirar a água que vai ser pros alimentos e
aí em segundo lugar pra poder lavar os utensílios e em terceiro lugar a água
para banhos.
Aí a
gente tem que bater a gaivota do fogo que é construir o rabo de jacu, fazer o
fogo e manter o fogo aceso, porque a noite na selva um dos grandes riscos é
você acabar virando presa de um animal no topo da cadeia alimentar, no caso.
Então o fogo tem essa função que além de secar a roupa da gente, geralmente
está úmida pela caminhada durante o dia tem a função também de afugentar esse
tipo de animal.
O
curso durou uma semana e aí no último dia é como se fosse a nossa prova, que
realmente eles colocam a gente sem equipamentos ou com equipamento mínimo
dentro de um ambiente de selva e a gente tem que executar estas funções.
Apresentação da Rede de Selva
Este é o nosso cinto
suspensório operacional. Então a gente costuma usar ele em todos os eventos
cerimoniais e também durante as missões de selva. Aqui na região amazônica ele
é composto pelo facão que é muito
útil na hora de agente abrir o caminho no meio da selva. No meu caso que sou
oficial de saúde eu uso uma pistola, enquanto os oficiais de infantaria eles
portam a pistola e o fuzil. E dois cantis com a capacidade de um litro cada.
Esse é o cantil. (https://www.youtube.com/watch?v=12exFKXaUBo).
Disponível em: (https://www.youtube.com/watch?v=12exFKXaUBo).
Baixe o Arquivo Original nesse Link:
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