Roberto Monteiro de Oliveira
Introdução – Ultrapassando a rotina do dia a dia;
excedendo os limites territoriais de sua existência; indo além da percepção
direta de seus sentidos os homens colocaram para si, em todos os recantos da
Terra, as questões fundamentais da vida e da morte; da natureza e da sociedade;
dos seres visíveis e invisíveis.
Os historiadores colocam nos séculos VI e VII antes
de Jesus Cristo o momento em que em vários lugares da Terra surgiram ideias articuladas
a partir das quais se estabelecem as bases para o desenvolvimento da razão
humana em direção ao futuro.
Na China o taoismo assenta o grande princípio da
ordem universal. Confúcio define a busca de um caminho superior (Tao) como
forma de viver bem e em equilíbrio entre as vontades da Terra e as do céu
propondo uma sociedade e uma pessoa virtuosa que orientam a ética e a razão
chinesa até hoje. Na Índia o hinduísmo através do livro sagrado “Os Vedas”
mostrou as verdades eternas reveladas pelos deuses: a ordem que rege as coisas
e os seres tratando também sobre a origem da natureza e do mundo. No Oriente
Médio os hebreus conceberam a noção de um Deus único, criador, senhor e
sustentador de todas as coisas.
O que se deve observar é que inicialmente, resolvidas
as questões relativas à sua sobrevivência material o que sem dúvida lhes dá
oportunidade de desenvolver os primeiros conhecimentos técnicos, os homens
colocam para si as questões fundamentais da própria existência. Daí advindo,
para a maioria dos autores, o conhecimento mítico, o conhecimento religioso, o
conhecimento filosófico e o conhecimento científico. O grande desafio atual é
conciliar o chamado conhecimento tradicional com o conhecimento científico.
A civilização cristã ocidental - A civilização
cristã ocidental percorreu um longo caminho até chegar à forma atual da sua
maneira de pensar e raciocinar.
Nesta caminhada tomaremos como ponto de partida
espaço/temporal, para esta oficina o momento em que a civilização ocidental, na
Europa, vive o que ficou conhecido como Renascimento.
A Idade Média - a partir do século XI até o
Renascimento, nas questões relativas ao conhecimento humano, no ocidente,
prevalece o que ficou conhecido como Escolástica.
A escolástica foi a tentativa de conciliar a fé cristã
com a razão, representada pelos princípios da filosofia clássica grega, em
especial os ensinamentos de Platão e Aristóteles. Desenvolve-se a partir da
filosofia patrística, elaborada pelos padres os Doutores da Igreja Católica,
que faz a primeira aproximação entre o cristianismo e uma forma racional de
organizar a fé e seus princípios, baseada no platonismo. Com a escolástica, a
filosofia medieval continua ligada à religião, uma vez que são as questões
teológicas que suscitam a discussão filosófica.
A fase inicial da escolástica é profundamente
influenciada pelo pensamento de Santo Agostinho (354-430), o mais importante
nome da filosofia patrística. Retomando os princípios do platonismo, entre eles
o de que há uma verdade absoluta acima das verdades particulares, Santo
Agostinho vê na revelação divina o meio pelo qual a verdade é introduzida no
espírito humano.
O período mais importante da escolástica
corresponde ao do desenvolvimento do tomismo, doutrina cristã criada no século
XIII por São
Tomás de Aquino (1224-1274), com base na filosofia aristotélica. Para São Tomás de Aquino e para seus seguidores, há duas ordens de conhecimento: o sensível e o intelectual, sendo que o intelectual pressupõe o sensível. A impressão que um objeto deixa na alma é chamada de conhecimento sensível. O conhecimento intelectual considera apenas as características comuns entre os objetos e elabora o conceito.
Tomás de Aquino (1224-1274), com base na filosofia aristotélica. Para São Tomás de Aquino e para seus seguidores, há duas ordens de conhecimento: o sensível e o intelectual, sendo que o intelectual pressupõe o sensível. A impressão que um objeto deixa na alma é chamada de conhecimento sensível. O conhecimento intelectual considera apenas as características comuns entre os objetos e elabora o conceito.
Sobre as relações entre filosofia e teologia, São
Tomás de Aquino afirma que a filosofia é conhecimento e demonstração racionais,
que parte de princípios evidentes e chega a conclusões inteligíveis. Já a
teologia é fundada sobre a revelação divina, da qual não se pode duvidar. A
revelação, porém, prevalece quando há contradição entre a verdade intelectual e
a verdade revelada.
A escolástica entra em crise no final da Idade
Média, por volta do século XIV, período marcado pelo surgimento do humanismo
renascentista, pelas novas descobertas científicas e pela Reforma Protestante.
Entretanto, sobrevive na era moderna como o pensamento cristão tradicional o
neo-tomismo.
O Renascimento - A partir do Renascimento se começa
criticar a maneira como se procurava explicar os fenômenos da natureza.
Usava-se muita razão, muita lógica, muito sistema bem organizado, mas se
descuidaram da observação e não se controlavam os fatos que se queria explicar.
Foram Francisco Bacon e Galileu Galilei que trabalharam para nos dar um método
diverso e que chamamos hoje de método experimental. Sucintamente este método consiste no seguinte:
diverso e que chamamos hoje de método experimental. Sucintamente este método consiste no seguinte:
1º observar os fatos;
2º levantar hipóteses explicativas dos mesmos;
3º retornar a experiência para verificar se as
hipóteses estão certas, de acordo com os fatos.
Aos poucos vai se firmando como científico somente
aquilo que procurava as leis do mundo físico e que prova suas afirmações com o
controle dos fatos. Com isso somente a física adquiriu foros de ciência. Mas
com a adoção do método da física nas outras pesquisas também estas outras
pesquisas passam a ter o status de ciências de tal forma que quando falamos
hoje de ciência entendemos o tipo de conhecimento que de alguma forma usa o
método experimental.
As ciências humanas procuraram então se enquadrar
em um método semelhante ao da física para serem chamadas ciências. Neste
contexto as ciências adquiriram algumas características.
Características da Ciência Moderna - A primeira
característica é a matematização ou quantificação, ou seja, as qualidades e
propriedades da natureza passam a ser medidas por uma linguagem simbólica muito
precisa, de compreensão universal unívoca: 50mm, 9km, 120 4kg e etc....
Uma outra característica da ciência moderna é a
funcionalidade, ao cientista interessa relatar como esta sendo processado o
experimento e a quanto ou em que medida o mesmo se processa em vista unicamente
de seus resultados. Não interessa ao cientista buscar as causas últimas.
A terceira característica da ciência moderna é o
caráter seletivo. Isso quer dizer que para fazer uma hipótese explicativa o
cientista tem que selecionar os elementos e variáveis com que vai tratar, ou
seja, tem que escolher as variáveis que vão ficar sob controle. Por esse
procedimento do dado particular, pode o cientista chegar a uma Lei Geral.
Uma outra característica da ciência moderna é o seu
caráter aproximativo. Esta característica diz respeito a tentativas de
interpretar ou representar plasticamente os fatos ou fenômenos estudados. Toda
vez que uma teoria científica cria uma explicação para um fato ou fenômeno, na
sua linguagem simbólica inventa e interpreta como se o símbolo substituísse a
realidade. São os chamados modelos explicativos.
A ciência moderna, como não podia deixar de ser,
tem também um caráter progressivo acumulativo, os conhecimentos vão se
acumulando e se aperfeiçoando, e as teorias vão sendo reelaboradas.
Existe ainda uma característica ligada ao caráter
quantitativo da ciência moderna que é a exatidão. A ciência é exata
precisamente na sua formulação unívoca, e tem que ser unívoca exatamente pela
dependência dos seus resultados. Este modelo de fazer ciência ficou conhecido
como positivismo.
Positivismo - Para o positivismo a ciência é a
única forma válida de conhecimento. As descobertas científicas dando novas
explicações sobre a natureza, sobre a sociedade e sobre as homens justificaram
a conclusão de que a única filosofia verdadeira era a própria ciência.
O positivismo considerando os fracassos da
filosofia propõe o domínio do homem sobre a natureza através da ciência e que a
ciência seja a base da organização da sociedade humana.
Os positivistas tem uma concepção dinâmica da
natureza. Os fenômenos se sucedem num processo evolutivo e ininterrupto do
mundo inferior, inorgânico, passando por uma série progressiva de formações
intermediárias, cada vez mais complexas até atingir o mundo superior, o mundo
humano.
O positivismo trouxe para a sociedade humana as
mesmas leis encontradas no mundo animal legitimando a supremacia dos mais
fortes sobre os mais fracos através da concorrência. Daí advém uma série de
outras consequências perversas para a convivência humana e para o funcionamento
e relacionamento das sociedades e nações como, por exemplo, a legitimidade da
destruição e invasão do território dos mais fracos se os mais fortes se
sentirem ameaçados.
Comparando o Positivismo com o Materialismo
Histórico e dialético, constatamos que eles possuem em comum a concepção de que
a matéria é o princípio supremo e a causa de toda a realidade.
Além disso, tanto o materialismo como o positivismo
possuem uma preocupação com o homem. O materialismo de Marx e seus seguidores
procura libertar o homem das alienações ideológicas, das sujeições e das
opressões políticas.
O materialismo positivista procura adquirir um
conhecimento exato do homem como ser social empregando, para isso, o método das
ciências experimentais. Como as ciências são aptas para formular as leis
relativas ao desenvolvimento dinâmico da realidade natural, devem ser aptas
também para formular a leis relativas ao desenvolvimento social humano.
Na verdade Augusto Comte usou o termo POSITIVO, em
oposição ao que ele considerava NEGATIVO, isto é, o iluminismo.
O positivista tem uma postura afirmativa no sentido
da ORDEM rejeitando as críticas românticas dos conservadores feitas à sociedade
propondo soluções para os problemas presentes em alternativas buscadas no
passado. Os positivistas rejeitam também o pensamento critico progressista que
propõe um projeto social alternativo para o presente e o futuro da sociedade.
O paradigma da análise positivista - Os
positivistas lutam pela integração, pelo consenso, e pela harmonia social
analisando a sociedade segundo o seguinte paradigma:
1 - A sociedade é um organismo, regulado por leis
naturais, cujas partes são mutuamente dependentes, como um organismo vivo,
2 - O funcionamento tranquilo de todo o corpo
depende do bom funcionamento de todas as partes constitutivas. Qualquer
patologia em uma das partes pode levar todo o corpo à morte;
3 - Cada órgão isolado desempenha uma função
específica, mas deve estar conectado e integrado para o bom desempenho de todo
o corpo social. O principio integrador da sociedade positivista é definir
exatamente a função de cada parte ou órgão da sociedade.
A normalidade da sociedade positivista é o
funcionamento ordeiro, integrado, harmonioso e consensual das partes que
compõem o corpo social. Por fim,
4 - Os positivistas consideram a importância que
todos têm para o funcionamento harmonioso do corpo social e que, portanto cada
um deve aceitar resignado e naturalmente desempenhar a própria função na
sociedade.
Para as positivistas, os conflitos sociais, as
contradições da sociedade, são fenômenos marginais, imperfeições - o natural é
a saúde do corpo, não sua doença. Na comparação positivista entre a sociedade e
o organismo biológico, a tendência natural é que as partes constitutivas do
todo, ainda que diferenciadas, cooperem no sentido da manutenção da saúde do
corpo. Se é natural que o corpo tenda a normalidade, todos os sintomas que
possam comprometer sua saúde são patologias, anormalidades.
Expressões do Positivismo - Para Durkheim uma das
maiores expressões do Positivismo, a raiz dos problemas sociais não é de
natureza econômica, mas sim em relação a fragilidade da moral e ao estado de
anomia, ou seja, a inexistência ou insuficiência de regulamentação, uma
indeterminação jurídica. Daí a necessidade de regulamentações.
O positivismo durkheimiano expressa um elemento de
continuidade com o objetivo proposto por Augusto Comte de reconciliar ORDEM e
PROGRESSO. Sua preocupação básica é o restabelecimento da saúde do organismo
social. Para isso pensava ser necessário desenvolver novos hábitos e
comportamentos. Ele remete a solução dos problemas sociais para a moral e o
direito. Se cada um cumprir sua função de maneira apropriada, o todo, a
sociedade funcionará de forma integrada: trata-se da solidariedade orgânica.
Isto, em termos políticos, se traduz na defesa de uma proposta corporativa que
nega a sociedade como dividida em classes sociais.
Segundo Durkheim:
"O que é necessario, para que reine a ordem
social, é que o conjunto dos homens se contente com seu destino. Mas o que é
necessário para que eles se contentem não é que tenham mais ou menos, mas que
estejam convencidos de que não Ihes assiste o direito de ter mais. Para isso, é
preciso, necessariamente que haja uma autoridade superior reconhecida, que
estabeleça o direito. Porque, abandonado exclusivamente a pressão das suas
necessidades, o indivíduo nunca admitiria que chegou ao limite extremo dos seus
direitos." (Apud ARON, 1982: 354).
Entre os positivistas tem lugar de destaque Charles
Darwin que em 1831, participa, como naturalista, de uma expedição de volta ao
mundo no navio Beagle, promovida pela Marinha inglesa. Durante cerca de cinco
anos desta viagem, obtém informações para fundamentar a Teoria da Evolução das
Espécies, publicada em 1859 no livro A Origem das Espécies, na qual afirma que
o meio ambiente seleciona os seres mais aptos e elimina as menos dotados.
O positivismo pode ser entendido no duplo aspecto
de um método científico e uma concepção filosófica do mundo. Na verdade existe
uma íntima correlação entre esses dois aspectos.
O enfoque Positivista aparece em vários autores
sendo admitido que as bases do Positivismo foram colocadas por Saint-Simon em
suas obras: Introdução aos Trabalhos Cientificos do século XIX publicada em
1808, Reorganização da Sociedade Europeia, de 1814; Novo Cristianismo de 1825 e
outras menores em que analisa a crise da sociedade europeia da época moderna e
aponta as soluções para superá-las.
O principal teórico do Positivismo é na verdade
Augusto Comte (1798-1856). Em 1830 publica o "Curso de Filosofia
Positivista", onde desenvolve a nova ciência da humanidade e cria uma nova
religião, a religião da humanidade. Objetivo principal de Augusto Comte era
elaborar uma filosofia da história baseada no princípio da evolução espontânea
e
mecânica. Mas a parte da obra de Augusto Comte que teve mais repercussão entre seus contemporâneos e ainda hoje, foi a que trata do valor e da função da ciência.
mecânica. Mas a parte da obra de Augusto Comte que teve mais repercussão entre seus contemporâneos e ainda hoje, foi a que trata do valor e da função da ciência.
Augusto Comte admite que todo universo procede da
matéria por via de evolução e o homem é produto da evolução da matéria. Quando
a evolução atingiu o estágio humano teve inicio a história. As fases da
história segundo Comte são: religiosa, filosófica e científica.
Na religião o homem explica os fenômenos naturais
pelas causas sobrenaturais. Na fase filosófica, a fase crítica a explicação é
dada por princípios; na fase positiva as explicações decorrem das leis naturais
que explicam por si sós os fenômenos.
A história do homem, segundo Comte resume-se em ter
sido teólogo na infância, metafísico na juventude e físico na idade adulta. A
filosofia é a forma mais alta do saber é a rainha de todas as ciências. Sua
função é classificar as ciências, determinar seus limites, julgar os seus
progressos e dirigir as ciências em suas pesquisas.
Sistematizando suas reflexões sobre a humanidade,
Comte concluiu que a humanidade é o único Deus que merece o nosso culto. A
humanidade é o grande ser enquanto "conjunto dos seres passados, futuros e
presentes que concorrem livremente para o aperfeiçoamento da ordem universal".
É para este ser que deve ser dirigida a religião de todos os membros da
sociedade.
Ainda quanto ao aspecto filosófico da obra de
Augusto Comte é importante considerar o seu último escrito dedicado a filosofia
Matemática (1856), onde, tentando associar a ciência da natureza ao sentimento
introduz a trindade positivista. Ao lado do "Grande Ser" que é a
humanidade, Comte coloca como objeto de adoração o "Grande Fetiche" a
Terra, e o Grande Meio, o Espaço.
Concluindo, Comte afirma que a humanidade está em
contínuo progresso realizando um aperfeiçoamento constante com a preponderância
crescente das tendências mais nobres da natureza. A humanidade tende a unidade
política quando será governada por uma corporação de filósofos positivistas.
Finalmente, a humanidade é guiada por uma só lei
moral: viver para os outros. O homem tem instintos altruístas que a educação
positivista pode desenvolver progressivamente.
As regras básicas do método positivista - As regras
básicas do método positivista foram enunciados por Augusto Comte na sua obra
"Discour sur L'Esprit Posittif" publicada em 1844.
A primeira regra parte da afirmação de que "a
verdadeira observação é a única base possível dos conhecimentos". A partir
disso afirma que "toda proposição que não possa reduzir-se estritamente ao
simples enunciado de um fato, particular ou geral, não pode oferecer nenhum
sentido real e inteligível".
Em conseqüência dessas colocações a imaginação
perde a sua antiga supremacia e fica subordinada a observação, e como de fato
não é possível conhecer mais que as conexões naturais entre os fenômenos
observados, daí resulta a revolução fundamental da época positivista:
substituir em tudo as inacessíveis determinações das leis, quer dizer, pelas
relações constantes que existem entre os fenômenos observados.
A Segunda regra se refere a necessidade de reduzir
a pesquisa somente aos fenômenos "renunciando a descobrir sua origem
primeira e o seu destino final".
O conhecimento positivo recusa o conhecimento
absoluto e afirma que o conhecimento deve permanecer sempre relativo à nossa
organização e à nossa situação, de modo que as especulações racionais não podem
ter nunca a certeza absoluta que os metafísicos suponham.
Finalmente a terceira regra propõe a previsão
racional como destino e objetivo das leis positivas. Diante do empirismo
estreito que se limita a "uma estéril acumulação de fatos incoerentes, o
verdadeiro espírito positivo procura as leis dos fenômenos". Deve-se
salientar que a verdadeira ciência "longe de ser formada por simples
observações, tende sempre a dispensar, por quanto for possível, a exploração
direta, substituindo-a pela previsão racional que constitui, em todos os
aspectos a principal característica do espírito positivo".
Deste modo, o verdadeiro espírito positivo consiste
antes de tudo em ver para prever, em estudar o que é a fim de concluir o que
será, segundo o dogma da invariabilidade das leis naturais.
Estas regras do método Positivista aparecem
repetidas de uma maneira ou de outra nos vários seguidores do Positivismo
cotidiano, mas tem particular destaque a obra de John Stuart Mill, System of
Logic, de 1843, que e o texto clássico da lógica indutiva positivista.
A base do método Positivista é sempre o raciocínio
indutivo, que parte da observação e mediante classificação e comparações se
eleva a conclusões gerais ou descobrimento de leis. Na verdade o essencial
nesse tipo de raciocínio é o seu encadeamento lógico segundo o silogismo
clássico.
A possibilidade de realizar previsões é o objetivo
essencial do método positivista e deriva do postulado de que há uma ordem
constante e necessária nos fenômenos da natureza a qual é alcançada através de
indução.
Estas previsões sendo possíveis na natureza deverão
também ser possíveis na sociedade humana.
0 modelo ideal da ciência está nas ciências da
natureza e em particular da biologia. Augusto Comte pretendeu mesmo a
construção de uma física social como outros pretenderam elaborar uma biologia
social.
Esta pretensão tem sua raiz no postulado
positivista da unidade profunda da ciência e do método cientifico. Trata-se da
certeza de que os modos de aquisição de um saber válido são fundamentalmente os
mesmos em todos os campos da experiência.
Segundo o Materialismo Positivista só existe a
realidade natural da qual o mundo físico e psíquico são duas faces ou
manifestações distintas da mesma realidade.
A vida humana é reduzida a um complexo de fenômenos
físico-químicos. Os fatos psicológicos são considerados como funções cerebrais,
ou emanações do cérebro tal qual a segregação biliar do fígado.
Positivismo no Brasil - O positivismo teve uma
fortíssima influência nos ideais dos republicanos brasileiros. Entre os quais
se destacam Miguel Lemos, Teixeira Mendes e Benjamin Constant. Os governos de
Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto colocaram as marcas dos ideais
positivistas na República Brasileira que foram eternizados na bandeira
nacional: ordem e progresso.
A abordagem histórico dialética - Outra maneira de
entender e fazer ciência é o materialismo histórico e dialético. O materialismo
histórico e dialético parte da dimensão dinâmica da realidade dos seres. É uma
forma de pensar a realidade em constante mudança. Para o materialismo histórico
e dialético existe uma ligação intrínseca entre a sociedade e a natureza de
forma que é impossível entender a vida da sociedade humana fora de sua ligação
com a natureza.
Foi no seu relacionamento com a natureza através do
trabalho produzindo e utilizando ferramentas que o homem evoluiu, se separou e
se distinguiu dos outros animais desenvolvendo o cérebro e adquirindo outras
características próprias. Entre estas características se destacam a comunicação
articulada pela linguagem e a sociabilidade. Dinstinguindo-se e separando-se
dos outros animais o homem se torna um ser social.
O materialismo histórico e dialético parte do
princípio de que os fatos humanos são historicamente determinados e que estas
determinações cientificamente observadas e analisadas permitem e garantem a
interpretação e o conhecimento desses fatos podendo até descobrir suas leis.
O materialismo é dialético porque considera que o
mundo é por sua natureza material existindo independentemente das sensações
humanas. O materialismo histórico e dialético considera ainda que a matéria se
encontra em contínuo movimento que se realiza no espaço e no tempo. O
movimento, o espaço e o tempo são as formas fundamentais de existência da
matéria. Deve-se observar que o materialismo histórico e dialético entende o
movimento como todas as transformações que ocorrem no universo desde os
mecanismos mais simples da natureza aos processos mais complexos do pensamento
humano.
Historicamente determinados significa que os fatos
sociais são criados por pessoas que têm interesses individuais e da classe a
que pertencem. São esses interesses sociais, políticos, econômicos conflitantes
e divergentes entre as classes sociais que fazem a humanidade caminhar em
direção ao futuro.
É nesse caminhar coletivo onde ocorrem os processos
sociais econômicos e políticos que determinam as transformações históricas. A
história não se faz individualmente.
O materialismo histórico e dialético demonstrou que
os fatos humanos são produzidos em condições objetivas concretas onde os homens
pensam e realizam suas ações.
As primeiras ações humanas no sentido de prover a
própria sobrevivência colocam os homens em relação com a natureza iniciando o
processo de construção do território humano através do trabalho.
É preciso enfatizar que a relação dos homens e das
mulheres com a natureza no sentido de prover a própria sobrevivência não se dá
de forma individualizada e sim de forma coletiva, socializada. Isso nos aponta
que a sobrevivência atual dos seres humanos, em face dos gravíssimos problemas
criados pelos processos produtivos, particularmente pelo capitalismo exige
soluções coletivas globais. Procedimentos individuais, isolados podem até
ajudar, mas o tamanho do problema é de tal ordem que exigem soluções globais.
Nesse trabalho de construção da própria
territorialidade os homens criam organizações, instituições, (a família, por
exemplo), ideias, valores e símbolos que dão sustentação e legitimidade a essas
instituições e práticas.
Portanto, o materialismo histórico e dialético
mostrou a alta correlação positiva existente entre a base material das
edificações, construções e instituições produzidas pelos homens e as ideias,
valores e práticas utilizados para justificarem e legitimarem essas
instituições e situações.
Conclusão - A ciência se coloca na História da
Humanidade tentando dar explicações verdadeiras aos fenômenos que envolvem toda
a existência humana e a natureza. È nessa busca apaixonada e apaixonante que o
homem tenta libertar-se de todas as alienações e entraves que o escravizam e o
impedem de encontrar a plena felicidade. Não tenhamos dúvida ou temores: “A
VERDADE NOS LIBERTARÁ”
Bibliografia
ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico.
São Paulo, Martins Fontes; Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1982.
CAPEL, Horacio. El positivismo y la geografia. In:
Filosofia y Ciencia en la Geografia Contemporánea. Barcelona, Editorial
Barcanova, 1981, cap. X, pag. 267-311.
GIANNOTTI, Jose Arthur. (Org.) DURKEHIM, Emile. São
Paulo, Abril cultural, 1983, 2a ed. (Coleção Os Pensadores).
MARCUSE, Herbert. Razão e Revolução. Rio de
Janeiro, Paz e Terra, 1978 (4a edição).
MONDIN. Batista. Os Positivistas. In: Curso de
Filosofia. São Paulo, Edições Paulinas, 1983, vol. 3, cap. VI, pag. 112-126).
MORAES FRANCISCO, Evaristo de. Comte - Sociologia.
São Paulo, Ática, 1989. (Coleção Grandes Cientistas Sociais).
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