6 de jan. de 2012

ILUSTRES PORTUGUESES E O COMBATE A COBIÇA INTERNACIONAL SOBRE A AMAZÔNIA


Prof. Dr. Roberto Monteiro de Oliveira

No processo de dominação e colonização da Amazônia a historiografia oficial dá destaque para várias personalidades que até hoje são cultuadas e homenageadas como heróis da conquista da Amazônia. O historiador José Valente, na sua coluna"Hojena vida do Pará", nos relata o seguinte:


"1740.O livro "Brasil, Colômbia e Guianas", de Ferdinand Denis, enumera osmais sanguinários governadores, capitães mores e capitães que passaram pelacapitania do Grão Pará. Foram os seguintes: capitão-mor Francisco CaldeiraCastelo Branco – tinha o mórbido prazerde passar o fio da espada pela goela de inermes índios, principalmente de mulherese crianças; capitão-mor Bento Maciel Parente – seus "olhos brilhavam deestranho prazer quando o índio esperneava na ponta de uma corda";capitão-mor Jerônimo Fragoso de Albuquerque – fidalgo da casa real (imagine senão fosse) extinguiu as tabas aborígines, de modo impiedoso, dos índios Iguapé,Guanapu e Caripi, nos arredores de Belém. Mandava fazer enormes montes de lenhae os sobreviventes eram queimados vivos. Fragoso de Albuquerque "sentiaenorme prazer em aspirar o cheiro acre da carne queimada"; os capitãesPedro Maciel Parente e Vital Maciel Parente, sobrinhos do capitão Bento MacielParente, "gostavam de ouvir o som cavo da borduna, na cabeça do pobreíndio"; capitão-mor Manoel de Sousa de Eça matava o aborígine com um finofio de cobre, fazendo torniquete em seu pescoço; capitão-mor Luiz do RegoBarros os eviscerava. Esses foram os que mais se destacaram no extermínio de umpovo: não que os demais capitães não os matassem, mas o faziam rapidamente("humanamente", segundo eles)". (Cf. VALENTE, José. Hoje na vida do Pará. O Liberal. Cartaz, Belém,p. 7, 28 mar. 1999).

Esses fatos parecemdistantes no espaço/tempo, entretanto a presença dos índios ainda incomoda aselites da sociedade brasileira. Os grandes projetos do Estado brasileiro aindase deparam com as tribos indígenas resistentes: as estradas, as hidrelétricas,os projetos agrominerais, a exploração das madeiras e dos fármacos etc.etc...ea crueldade contra a presença dos índios continua a mesma. O episódio do índiopataxó Galdino que foi queimado vivo em Brasília é muito expressivo daviolência que ainda se comete contra os índios.
Elencamos apenas osmais conhecidos massacres cometidos pelos portugueses contra os índios para quepelo menos estes nos sirvam para um resgate completo das dívidas humanitáriasque toda a civilização cristã ocidental tem para com estas nações.

“Quando se fala doavanço da civilização em face dos grupos indígenas, o que se tem em mente, emgeral, é a enorme distância entre a técnica e o equipamento de domínio danatureza de uma tribo silvícola e de uma nação industrial moderna. Assim, a“civilização” pareceria um destino desejável para qualquer tribo, porquerepresentaria o acesso a toda a “herança social da humanidade”.
Na prática, porém,para uma tribo qualquer, - para os índios Kaapor, por exemplo - a civilizaçãoque lhes é acessível representa coisa bem diversa do progresso industrial e dosrequintes da ilustração. (cf. RIBEIRO, Darcy. Ascoerções sócio-econômicas. Engajamento compulsório. In: ____. Os índios e a civilização. Petrópolis,Vozes, 1987, cap. X, p. 339).

Mas, é preciso dizerque a matança dos índios tinha um limite, pois que os portugueses necessitavamde mão-de-obra para a construção das cidades e de moradores que assegurassem aposse dessas terras e suas riquezas para o reino de Portugal.
Quanto ao combate aosinimigos externos Arthur Cézar Ferreira Reis dá-nos um resumo cronológico muitooportuno da ação do governo português na salvaguarda da Amazônia para suasoberania:

“1616 - Pedro Teixeira eGaspar de Freitas de Macedo atacaram um patacho holandês que se aproximava depresépio afundando-o”. 1623 - Luís Aranha de Vasconcelos e Bento MacielParente, tendo como subordinados Francisco de Medina, Pedro Teixeira AiresChincharro e uma força expedicionária recrutada em Lisboa, Pernambuco, RioGrande do Norte, Maranhão e Pará, mais um contingente de 1.000 índiosfrecheiros, coordenados pelo franciscano Cristóvão de São José, atacarampovoações inglesas e holandesas localizadas ao longo do Amazonas, em Gurupá ena ilha dos Tocuju. Ali se encontraram seis fidalgos ingleses, que foram mortosem combate; os fortes derrubados, afundados dois navios e aprisionados centenasde combatentes inimigos.
Em 1625, PedroTeixeira, Pedro da Costa Favela e Jerônimo de Albuquerque assaltaram asposições holandesas e inglesas do Xingu, destruindo-as e capturando osocupantes.
Em 1629,Pedro Teixeira e Pedro da Costa Favela tomaram o forte de Torrego, na ilha dosTocuju.
Em 1631, foi avez de Jácome Raimundo e Noronha e Pedro da Costa Favela apoderarem-se do forteNorth, no litoral do Macapá. No mesmo ano, Feliciano Coelho tomava e destruia oforte Cumaú, impondo um duro castigo aos Nhengaíba, que ajudavam osestrangeiros.
Em 1639, JoãoPereira de Cáceres, comandante da praça forte do Gurupá, apoderava-se de umpatacho holandês que tentava desembarcar colonos nas cercanias doestabelecimento.
Em 1648, porfim, registrou-se o último ataque. Sebastião Lucena de Azevedo destruiu asfortificações holandesas dos lagos da região do Macapá”. (os grifos sãonossos). (cf. REIS, Arthur Cézar Ferreira. Ingleses,irlandeses e holandeses tentam a primeira surtida. In: ____. A Amazônia e a cobiça internacional.Rio de Janeiro: Civilização brasileira; Manaus: Suframa, 1982, cap. II, p.29-30).

Para se prevenir daameaça francesa sobre a Amazônia Felipe IV cria em 14 de junho de 1637 acapitania do Cabo Norte concedendo-a em caráter perpétuo a Bento Maciel Parenteque manda construir o forte do Desterro na vila de Almeirim. Nessa época, pelapalavra autorizada de La Condamine fica-se sabendo da comunicação existenteentre o Amazonas e o Orenoco. Consequência disto é que fica-se sabendo tambémque a região das Güianas terá como fronteira ocidental o Peru. Era portanto muiconveniente que Portugal se apossasse dessas terras à margem güianense do RioAmazonas.
Em 16 de agosto de1639 a vinte graus de longitude do Oiapoque Pedro Teixeira tomou posse para oreino de Portugal em nome do Rei Felipe IV de toda a parte meridonal da Güianadesde a margem direita do Oiapoque até a margem esquerda do Napo. Esta viagemde Pedro Teixeira é comumente admitida como a demarcação geográfica da Amazônialusitana.
No processo deconstrução da Amazônia lusitana, sobretudo os historiadores destacam o períododenominado de “era pombalina”. É Nesse momento que o Estado monárquico absolutistaportuguês exercendo uma política mercantil colonialista consolida todo o seupoder sobre a Amazônia.

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