8 de jan. de 2012

GEOGRAFIA E CONSCIÊNCIA REGIONAL

Prof.Roberto Monteiro de Oliveira

Dando início as comemorações dos dez anos do curso de Geografia daUniversidade do Amazonas, em primeiro lugar elevo meu pensamento a Deus paraagradecer em nome dos ex-alunos, dos professores, dos funcionários e dos alunospor tudo de bom que nos concedeu durante estes dez anos de caminhada.

“Por maislongo que seja o caminho, o mais importante é sempre o primeiro passo”.

O curso de Geografia da Universidade doAmazonas surge dentro do contexto das lutas libertárias do povo brasileirocontra aqueles que ainda hoje insistem em impedir o desenvolvimento dopensamento geográfico brasileiro dentro das universidades.
O acordo MEC/USAID reduziu os cursos deHistória e Geografia ao curso de curta duração chamado Estudos Sociais. Foi umalonga luta retomar o espaço perdido. Mas finalmente o espaço geográfico foireconquistado e a licenciatura plena em Geografia foi implantada naUniversidade do Amazonas dentro do Departamento de Ciências Sociais pois emmomento algum passou pela cabeça dos que criaram o curso de Geografia que estafosse uma ciência natural.
O curso começou a crescer e a criarpersonalidade própria. Veio então a campanha para a criação do Departamento deGeografia. A despeito da má vontade de alguns o Departamento de Geografia foicriado assumindo a Geografia a sua autodeterminação na Universidade doAmazonas.
Como não podia deixar de ser, veio a lutapelo reconhecimento do curso. Um grupo de professores liderando um punhado dealunos foram a luta e o curso foi e está reconhecido. A próxima conquista seráa implantação do bacharelado. Mas todas as providências já estão sendo tomadaspara que isso ocorra dentro do cronograma previsto.
Outra conquistaimportante será sem dúvida a interiorização do curso de Geografia com aimplantação da licenciatura em Parintins.
Esta foi – muitoresumidamente - a nossa trajetória até o presente. Estes foram os fatosmarcantes da nossa caminhada ao longo desses dez anos.

“Pelo que foi econtra o que foi anuncia o que será”

A Geografia comotodas as demais ciências sociais surge e se institucionaliza como um ato deprotesto, como um projeto emancipatório da metafísica e da teologia quefundamentaram por muito tempo o conhecimento humano ocidental. A Geografiaportanto é transformação. A nossa luta portanto é contra a estagnação, é contrao imobilismo é contra aqueles que se opõem às mudanças das estruturas sociaisinjustas em que vivemos.
Fazer Geografia portantoé profissão para aqueles que compreendem a necessidade de construir um mundonovo onde não seja difícil ser feliz. Ser geógrafo é acreditar na capacidade derealização do trabalho humano superando as alienações advindas da religião edos costumes.
A Geografia portanto como ciência temvalor universal e os geógrafos cuidam de problemas semelhantes em lugaresdiferentes, o que aponta para respostas de sentido universal, o que nãosignifica necessariamente unanimidade das respostas pois não podemos confundiruniversalidade com unanimidade.
É preciso que se diga também que apesarda Geografia ser uma ciência de valor universal, não podemos esquecer a pessoado geógrafo sujeito às determinações particulares do lugar e do tempo em queconvive. O Geógrafo mais do que qualquer outro cientista social recebe asinfluências do meio em que vive, que influenciarão não só o conteúdo de suaobra geográfica como também a forma de expressá-la.
O caráter universalda ciência geográfica não anula a sua dimensão regional. É por isso que falamosem geografia francesa, geografia alemã, geografia brasileira e alimentamos nósa esperança de um dia referirmo-nos à Geografia Amazônida.
A verdade é quequanto mais os amazônidas recebem as influências de outros “gêneros de vida”mais descobrem a própria identidade regional. De repente Chico Mendes mostra aomundo inteiro a singularidade dos povos da floresta, e diferentemente de outraspessoas Chico Mendes não faz apologia do jeitinho brasileiro para a solução dosnossos problemas. Ele propõe a pesquisa séria, soluções estudadas,compatibilizando a exploração econômica com o bem-estar social das populaçõesamazônicas.
É evidente portantoque o próprio povo amazônida já é capaz de refletir sobre o próprio meiogeográfico e expressar racionalmente o seu pensamento, o seu sentir e o seuquerer provando ao mundo inteiro que atingiu a maturidade no seu processo deauto-consciência. O que falta é a classe dirigente e dominante aprender com opovo e adotar as soluções apontadas por este. O que falta ao povo é umaestratégia de luta para chegar ao poder.
É claro que estaauto-consciência vem se forjando ao longo das lutas que povo amazônida vemtravando ao longo de sua História contra a dominação alienígena. Foi naintimidade das tribos indígenas, no recesso das comunidades cabocas, enfim, noíntimo, no coração e na mente de cada amazônida que se elaborou este sabergeográfico que vem de ser revelado por seu mais legítimo intérprete: ChicoMendes. É este saber que precisa ser resgatado. São estas as soluções que osgeógrafos comprometidos com o povo amazônida precisam implementar.
Felizmente, que aGeografia hoje vem assimilando positivamente as influências da antropologia, dasociologia, da ecologia e das demais ciências o que lhe deu um alto nível deconscientização e sensibilidade para trabalhar em benefício de todos os homens.É necessário portanto que a partir de agora o trabalho do Departamento se voltepara a construção da consciência geográfica do povo daí resultando a construçãode um território onde haja trabalho, justiça e felicidade para todos.
E você geógrafoprofissional e você professor de Geografia já tomou consciência da suaresponsabilidade histórica de formador da consciência geográfica do povoamazônida? Ad multos annos. Sejam felizes.

(Palavras proferidas pelo Prof.Roberto Monteiro de Oliveira, chefe do Departamento de Geografia daUniversidade do Amazonas, dando início as comemorações dos dez anos deexistência do Curso de Geografia da Universidade do Amazonas).

(PS.Este texto está reproduzido aqui tal qual foi psicografado)

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