28 de jun. de 2013

A COMUNICAÇÃO E A REDAÇÃO CIENTÍFICA




Prof. Dr. Roberto Monteiro de Oliveira

INTRODUÇÃO – Antes de tudo é preciso dizer que este texto foi elaborado com o objetivo de atender as necessidades de um público de um projeto específico. Entretanto, houve um esforço para torná-lo interessante para todos os níveis de pesquisadores e aplicáveis a qualquer documento científico.
A redação científica deve ter as mesmas características da pesquisa científica. Como continuidade natural da pesquisa científica a redação de um documento científico deve refletir as normas da própria metodologia científica. A construção do texto científico deverá seguir as mesmas exigências para a boa comunicação.
Uma boa apresentação dos resultados obtidos na interpretação e reflexão sobre os dados coletados ou observados através de uma redação cuidadosa será fator importante para que a pesquisa adquira relevância científica entre os pares e o público interessado.
Obviamente que o texto científico não é um texto literário. Mas, para que os projetos e os relatórios científicos, os Trabalhos de Conclusão de Curso e as Dissertações de Mestrado não aborreçam os seus examinadores e sobretudo os comitês das instituições que financiam as pesquisas e suas publicações devem ser muito bem redigidos.
O texto científico do projeto apresentado deve mostrar com toda clareza o que quer fazer, porque quer fazer, como e quando vai fazer. O Relatório da pesquisa deve dizer o que foi feito, por que foi feito, como foi feito e o que foi concluído.
Tanto o projeto como o relatório da pesquisa são pontos específicos desenvolvidos e aprofundados nos manuais de metodologia científica.
Os mestres estudiosos da publicação científica em seus manuais, artigos apostilas e etc. sugerem normas e recomendam alguns procedimentos que a experiência lhes ensinou para que os iniciantes adotem para facilitar e obter sucesso em seus trabalhos.
O pesquisador deverá então combinar o rigor metodológico de sua pesquisa com as normas da boa redação científica.
A importância da boa redação científica – A redação científica vem tomando cada vez mais importância no âmbito da comunicação. É cada vez maior o interesse dos profissionais da comunicação pelas questões científicas de tal modo que já temos dentro da área da comunicação o chamado jornalismo científico em todas as suas formas de expressão.
É preocupante porém o que as avaliações oficiais denunciam a respeito do ensino. Os alunos não dominam os conteúdos científicos relativos as séries já cursadas.
Esta situação aponta a dificuldade que os futuros cidadãos terão para entender questões fundamentais da convivência social. Questões relativas à saúde pública, à conservação do planeta, como se transmitem as doenças, porque a gasolina polui mais que o álcool, porque pilhas, baterias e o lixo hospitalar devem ir para um local específico... o que é o aquecimento global, o que é chuva ácida, o el niño e tantos outros assuntos e questões que dependem de informações científicas para sua correta compreensão.
Todos esses fatos nos colocam a questão da comunicação científica e particularmente para nós a questão da redação científica.
Todo pesquisador quer publicar os resultados de sua pesquisa. Por outro lado os meios de comunicação através de seus conselhos editoriais das revistas científicas e de edição de livros são cada vez mais exigentes na obediência às normas de apresentação e redação do trabalho científico.
Os manuais de metodologia científica, nos capítulos relativos à redação científica falam em: coesão, coerência, consistência, clareza textual, clareza de expressão, objetividade na apresentação, precisão na linguagem, utilização correta das regras gramaticais e etc.... Um bom exercício de iniciação científica seria pesquisar nos bons dicionários o significado desses termos e expressões aplicados à redação científica.
A verdade é que os pesquisadores que quiserem ser divulgados e compreendidos, principalmente pelos comitês que analisam e recomendam financiamentos e publicações de pesquisas devem dominar as técnicas e as regras da boa redação científica.
Aconselhamento não diretivo – Anteriormente falamos em sugestões, recomendações, adoção de procedimentos e etc....Na verdade todo paciente deve seguir a receita médica. Todo chefe de cozinha parte para novos pratos a partir de alguma receita já elaborada.
Mas não é na medicina nem na arte culinária que vamos buscar a orientação que nos parece mais oportuna e indicada para o nosso caso. É na psicologia: o aconselhamento não diretivo.
Segundo os psicólogos aconselhamento não diretivo é aquele que permite ao orientando expressar livremente seus anseios, preocupações, tensões emocionais, e bem assim os seus planos positivos de escolha, limitando-se o orientador educacional a fazer que o aluno adote a solução que melhor lhe pareça valorizando a personalidade do aluno.
Da mesma forma o professor orientador ouvirá as observações e sugestões de seus orientandos. Igualmente os líderes de grupos de pesquisa discutirão com seus pares as questões que vão surgindo e juntos decidirão os encaminhamentos a serem adotados valorizando todas as contribuições.
O estilo científico. - Nas palavras do Professor W. C Valenti, em sua obra Guia de estilo para a redação científica: “Produzir um texto adequado é tarefa árdua e demorada mesmo para aqueles que dominam a linguagem científica”.
A seguir vamos enumerar o que a experiência tem sugerido para se produzir um bom texto científico. É claro que experiência cada um adquire na sua prática. Cada um irá aproveitar e aplicar aquilo que couber e for mais oportuno.
Antes de começar a escrever qualquer documento científico siga os seguintes procedimentos:
1.   Em primeiro lugar faça um levantamento prévio dos assuntos, das ideias básicas, dos conceitos e dos termos utilizados na pesquisa e que serão os elementos constitutivos do documento científico dando-lhe a sua identidade.
2.   Estabeleça as questões prioritárias. É claro que tudo que foi definido como elemento constitutivo da pesquisa é importante. Aqui, trata-se de estabelecer as prioridades.
3.   Em seguida organize um roteiro lógico em que esses elementos constitutivos serão dispostos e apresentados. Trata-se aqui de organizar a sequência dos capítulos cujos os títulos devem ser elaborados com muita clareza anunciando sinteticamente o que vai ser tratado.
4.   Atualmente o uso do dicionário ainda é muito necessário para dirimir dúvidas de concordância nominal e verbal, dúvidas ortográficas, para conjugação de verbos e etc....Mantenha o dicionário sempre ativo no vídeo do seu computador.
5.   Ainda não foi possível dispensar o uso de dicionários especializados. Consulte-os para um entendimento correto e aprofundado de alguns conceitos.
6.   Uma das características marcantes do estilo científico é sempre escrever as sentenças na ordem direta: sujeito/verbo/complemento. Isso exige que as frases sejam curtas e simples seguidas de ponto para início de uma nova frase.
7.   A boa prática científica recomenda usar com moderação adjetivos e advérbios. Procure usar palavras adequadas e específicas mas simples e usuais compreensíveis pela grande maioria das pessoas.
8.   A linguagem científica procura usar termos de entendimento universal. Evite portanto os regionalismos, se for inevitável use uma nota de rodapé para explicá-los. Superlativos, aumentativos e diminutivos devem ser evitados.
9.   A primeira vez que se usa uma sigla deve-se escrevê-la por extenso, seguida da sigla entre parêntesis. Se usar muitas siglas, recomenda-se elaborar uma Lista de Siglas.
10. O estilo científico usa preferencialmente frases afirmativas com o verbo na voz ativa.
A função dos parágrafos no desenvolvimento do documento científico O parágrafo é o elemento constitutivo básico que estabelece o ordenamento lógico entre todas as partes do documento científico. Por isso o parágrafo é dialético, ou seja a sua conclusão deve estar em ligação com o início de um novo parágrafo. É assim que construímos a unidade e a coesão do documento científico.
Os parágrafos devem ser curtos. Adjetivos supérfluos, explicações repetitivas e rodeios tornam o parágrafo cansativo. Mas, evite também parágrafos excessivamente compactos para não comprometer o entendimento da explicação ou da argumentação que está sendo desenvolvida. Cada parágrafo deverá ter o tamanho necessário para desenvolver uma questão.
Cuidado com as explicações que não explicam nada. Pelo contrário, confundem o leitor dando a impressão que o autor não domina o assunto ou simplesmente deve aprimorar seu modo de redigir.
É no parágrafo que você vai construindo o ordenamento lógico do trabalho desenvolvendo as argumentações que comprovam a tese que você está defendendo, ou seja o posicionamento que você tem em relação ao assunto que você pesquisou.
O parágrafo pode ser construído à maneira de um silogismo. A primeira afirmação enuncia positivamente e com bastante clareza o que você tem de novo para apresentar a comunidade científica, ou simplesmente reafirmar o que está estabelecido a respeito do assunto pesquisado.
As outras afirmações vêm no sentido de dar comprovação a primeira afirmação e dar uma conclusão parcial que contribuirá para a conclusão final do trabalho. A partir desta conclusão parcial você inicia um novo parágrafo e vai desenvolvendo o trabalho.
Os parágrafos compõem os capítulos. Ao término de um capítulo é muito oportuno observar se o mesmo está seguindo o roteiro lógico estabelecido ou seja, se o capítulo está dando sequência ao capítulo anterior e se prepara o desenvolvimento do próximo capítulo. É assim que se constrói a coesão do trabalho.
Coesão do trabalho é este encadeamento ordenado, e esta ligação harmoniosa entre os parágrafos no desenvolvimento das informações obtidas na pesquisa que darão clareza, precisão, coerência e interesse pelo seu trabalho.
Verifique portanto se os parágrafos estão bem estruturados e interligados entre si transmitindo com clareza as informações ou os argumentos que você deseja transmitir. Se for o caso e você achar conveniente para melhor entendimento da sua pesquisa modifique a ordem dos parágrafos.
Examine com atenção e elimine os parágrafos que tenham ideias ou informações repetidas e irrelevantes escritas de forma diferente.
Para o aprimoramento da sua comunicação científica leia e releia cada capítulo examinando e excluindo adjetivos e advérbios desnecessários. Corrija erros de digitação, erros gramaticais, erros de concordância nominal e verbal, erros de regência verbal e etc....
Para evitar qualquer ambiguidade de entendimento da sua comunicação científica é necessário uma leitura examinando o correto uso sobretudo de adjetivos, advérbios e verbos. Uma espécie de revisão semântica do trabalho. Os termos, as palavras, as expressões foram usados adequadamente?
Checar a veracidade e a exatidão das informações antes de ter seu trabalho publicado é dever de todo pesquisador. Caberá ao pesquisador toda a responsabilidade pelas informações divulgadas em seu trabalho. Recomenda-se portanto que faça uma leitura cuidadosa checando todas as informações, sobretudo valores numéricos, datas, equações, símbolos, citações de tabelas e figuras, e as referências bibliográficas.
CONCLUSÃO – Ao darmos por encerrada esta oficina afirmamos que estamos apenas começando. É sobretudo na prática que cada pesquisador irá descobrir e aprimorar o próprio estilo científico de escrever. Um estilo simples como convém na comunicação entre pessoas que transmite os resultados de uma pesquisa ou a explicação de um fato de forma compreensível pelo maior número possível de pessoas.
A simplicidade do estilo científico na comunicação humana consiste exatamente na escolha correta e adequada das palavras e das expressões para melhor construir o raciocínio na explicação verdadeira dos fatos relativos à sociedade e à natureza superando as alienações e se aproximando da verdade. Não nos esqueçamos: a verdade nos libertará.
É esse o grande desafio que se coloca para os pesquisadores atuais libertarem-se do controle autoritário dos administradores das agências de fomento, das empresas, das universidades e dos institutos de pesquisa.
São estes os locais onde se executam as políticas de produção de conhecimentos que não vão lhes pertencer, nem à sociedade que lhes paga o salário.
Estes conhecimentos serão apropriados através de patentes por empresas e transformados em mercadorias para geração de lucros ou em instrumentos de dominação e opressão de pessoas e de povos.
O pesquisador perde o controle sobre a aplicação dos resultados de sua pesquisa. É por isso que precisamos formar pesquisadores cientificamente competentes e politicamente comprometidos com as questões que interessam à humanidade, à sociedade e à comunidade.
Atualmente a relevância de uma pesquisa passa necessariamente pela relevância social, pelos benefícios que a pesquisa possa proporcionar para a comunidade, para sociedade, enfim, para a humanidade. Necessitamos urgentemente de pesquisadores sensíveis aos problemas que causam sofrimento às pessoas: a cura de doenças, saúde, alimentação, a forme entre outros.
Em uma região subdesenvolvida e carente como a Amazônia não podemos gastar o dinheiro público para financiar diletantismo acadêmico ou científico de qualquer ordem.
Professor Pesquisador, Professor Educador, faça da sua prática pedagógico-científica um instrumento de aproximação e solidariedade entre as pessoas e os povos.

                                                                            Prof. Dr. Roberto Monteiro de Oliveira

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