A COMUNICAÇÃO E A REDAÇÃO CIENTÍFICA
Prof. Dr. Roberto Monteiro de Oliveira
INTRODUÇÃO – Antes de tudo é preciso dizer que este trabalho foi elaborado com o
objetivo de atender as necessidades de um público específico. Entretanto, houve
um esforço para torná-lo interessante para todos os níveis de pesquisadores e
aplicáveis a qualquer documento científico.
A redação
científica deve ter as mesmas características da pesquisa científica. Como
continuidade natural da pesquisa científica a redação de um documento
científico deve refletir as normas da própria metodologia científica. A
construção do texto científico deverá seguir as mesmas exigências para a boa
comunicação.
Uma boa
apresentação dos resultados obtidos na interpretação e reflexão sobre os dados
coletados ou observados através de uma redação cuidadosa será fator importante
para que a pesquisa adquira relevância científica entre os pares e o público
interessado.
Obviamente que
o texto científico não é um texto literário. Mas, para que os projetos e os
relatórios científicos, os Trabalhos de Conclusão de Curso e as Dissertações de
Mestrado não aborreçam os seus examinadores e sobretudo os comitês das
instituições que financiam as pesquisas e suas publicações devem ser muito bem
redigidos.
O texto
científico do projeto apresentado
deve mostrar com toda clareza o que quer fazer, porque quer fazer, como e
quando vai fazer. O Relatório da pesquisa
deve dizer o que foi feito, por que foi feito, como foi feito e o que foi
concluído.
Tanto o projeto como o relatório da pesquisa são pontos específicos desenvolvidos e aprofundados nos manuais de metodologia
científica.
Os mestres
estudiosos da publicação científica em seus manuais, artigos, apostilas e etc.
sugerem normas e recomendam alguns procedimentos que a experiência lhes ensinou
para que os iniciantes adotem para facilitar e obter sucesso em seus trabalhos.
O pesquisador
deverá então combinar o rigor metodológico de sua pesquisa com as normas da boa
redação científica.
A comunicação humana - A comunicação acompanhou todo o desenvolvimento humano. As formas de
expressão da comunicação humana são consequência da própria evolução humana que
exige para seu aperfeiçoamento objetivar seus sentimentos, pensamentos,
descobertas, decisões e etc....
Sem comunicação
não haveria a evolução uma vez que é necessário para a própria consciência de
si mesmo a consciência do nós. Sem essa verificação os homens permaneceriam
isolados, ensimesmados e bloqueados na própria individualidade.
Nesta longa
evolução de comunicação de sentimentos, emoções, descobertas e etc..., chegamos
a comunicação científica.
Atualmente, a
boa prática em comunicação científica faz algumas recomendações.
Para uma boa
comunicação de resultados de pesquisa, de resultados de inovações tecnológicas,
procedimentos e etc] ..., é importante contextualizá-los, ambientá-los socialmente
demonstrando com imagens, infográficos e outros recursos visuais.
Para facilitar
a “contra prova”, ou seja a repetição da pesquisa por outros pesquisadores
recomenda-se também mostrar as condições dos laboratórios onde foi feita a
pesquisa, inclusive dar a ficha técnica dos instrumentos e materiais usados e
utilizados na pesquisa.
A importância da boa redação científica – A redação científica vem tomando cada vez mais importância no âmbito
da comunicação. É cada vez maior o interesse dos profissionais da comunicação
pelas questões científicas de tal modo que já temos dentro da área da
comunicação o chamado jornalismo científico em todas as suas formas de
expressão.
É preocupante
porém o que as avaliações oficiais denunciam a respeito do ensino. Os alunos
não dominam os conteúdos científicos relativos as séries já cursadas.
Esta situação
aponta a dificuldade que os futuros cidadãos terão para entender questões
fundamentais da convivência social. Questões relativas à saúde pública, à
conservação do planeta, como se transmitem as doenças, porque a gasolina polui
mais que o álcool, porque pilhas, baterias e o lixo hospitalar devem ir para um
local específico... o que é o aquecimento global, o que é chuva ácida, o el
niño e tantos outros assuntos e questões que dependem de informações
científicas para sua correta compreensão.
Todos esses
fatos nos colocam a questão da comunicação científica e particularmente para
nós a questão da redação científica.
Todo
pesquisador quer publicar os resultados de sua pesquisa. Por outro lado os
meios de comunicação através de seus conselhos editoriais das revistas
científicas e de edição de livros são cada vez mais exigentes na obediência às
normas de apresentação e redação do trabalho científico.
Os manuais de
metodologia científica, nos capítulos relativos à redação científica falam em: coesão, coerência, consistência, clareza
textual, clareza de expressão, objetividade na apresentação, precisão na
linguagem, utilização correta das regras gramaticais e etc.... Um bom
exercício de iniciação científica seria pesquisar nos bons dicionários o
significado desses termos e expressões aplicados à redação científica.
A verdade é que
os pesquisadores que quiserem ser divulgados e compreendidos, principalmente
pelos comitês que analisam e recomendam financiamentos e publicações de
pesquisas devem dominar as técnicas e as regras da boa redação científica.
Aconselhamento não diretivo – Anteriormente falamos em sugestões, recomendações, adoção de
procedimentos e etc....Na verdade todo paciente deve seguir a receita médica.
Todo chefe de cozinha parte para novos pratos a partir de alguma receita já
elaborada.
Mas não é na
medicina nem na arte culinária que vamos buscar a orientação que nos parece
mais oportuna e indicada para o nosso caso. É na psicologia: o aconselhamento não diretivo.
Segundo os
psicólogos aconselhamento não diretivo é aquele que permite ao orientando
expressar livremente seus anseios, preocupações, tensões emocionais, e bem
assim os seus planos positivos de escolha, limitando-se o orientador
educacional a fazer que o aluno adote a solução que melhor lhe pareça
valorizando a personalidade do aluno.
Da mesma forma
o professor orientador ouvirá as observações e sugestões de seus orientandos.
Igualmente os líderes de grupos de pesquisa discutirão com seus pares as
questões que vão surgindo e juntos decidirão os encaminhamentos a serem
adotados valorizando todas as contribuições.
O estilo científico. - Nas palavras do Professor W. C Valenti, em sua obra Guia de estilo para a redação científica:
“Produzir um texto adequado é tarefa
árdua e demorada mesmo para aqueles que dominam a linguagem científica”.
A seguir vamos
enumerar o que a experiência tem sugerido para se produzir um bom texto
científico. É claro que experiência cada um adquire na sua prática. Cada um irá
aproveitar e aplicar aquilo que couber e for mais oportuno.
Antes de
começar a escrever qualquer documento científico siga os seguintes
procedimentos:
1.
Em primeiro lugar faça um levantamento prévio
dos assuntos, das ideias básicas, dos conceitos e dos termos utilizados na
pesquisa e que serão os elementos
constitutivos do documento científico dando-lhe a sua identidade.
2.
Estabeleça as questões prioritárias. É claro que tudo
que foi definido como elemento constitutivo da pesquisa é importante. Aqui,
trata-se de estabelecer as prioridades.
3.
Em seguida organize um roteiro lógico em que esses elementos
constitutivos serão dispostos e apresentados.
Trata-se aqui de organizar a sequência dos capítulos cujos os títulos devem ser
elaborados com muita clareza anunciando sinteticamente o que vai ser tratado.
4.
Atualmente o uso do dicionário ainda é muito
necessário para dirimir dúvidas de concordância nominal e verbal, dúvidas ortográficas,
para conjugação de verbos e etc....Mantenha o dicionário sempre ativo no vídeo
do seu computador.
5.
Ainda não foi possível dispensar o uso de
dicionários especializados. Consulte-os para um entendimento correto e
aprofundado de alguns conceitos.
6.
Uma das características marcantes do estilo
científico é sempre escrever as sentenças na ordem direta:
sujeito/verbo/complemento. Isso exige que as frases sejam curtas e simples
seguidas de ponto para início de uma nova frase.
7.
A boa prática científica recomenda usar com
moderação adjetivos e advérbios. Procure usar palavras adequadas e específicas
mas simples e usuais compreensíveis pela grande maioria das pessoas.
8.
A linguagem científica procura usar termos de
entendimento universal. Evite portanto os regionalismos, se for inevitável use
uma nota de rodapé para explicá-los. Superlativos, aumentativos e diminutivos
devem ser evitados.
9.
A primeira vez que se usa uma sigla deve-se
escrevê-la por extenso, seguida da sigla entre parêntesis. Se usar muitas
siglas, recomenda-se elaborar uma Lista de Siglas.
10. O estilo
científico usa preferencialmente frases afirmativas com o verbo na voz ativa.
A função dos parágrafos no desenvolvimento do
documento científico – O
parágrafo é o elemento constitutivo básico que estabelece o ordenamento
lógico entre todas as partes do documento científico. Por isso o
parágrafo é dialético, ou seja a sua conclusão
deve estar em ligação com o início de um novo parágrafo. É
assim que construímos a unidade e a coesão do documento científico.
Os parágrafos
devem ser curtos. Adjetivos supérfluos, explicações repetitivas e rodeios tornam o parágrafo cansativo. Mas, evite também parágrafos
excessivamente compactos para não comprometer o entendimento da explicação ou
da argumentação que está sendo desenvolvida. Cada parágrafo deverá ter o
tamanho necessário para desenvolver uma questão.
Cuidado com as
explicações que não explicam nada. Pelo contrário, confundem o leitor dando a
impressão que o autor não domina o assunto ou simplesmente deve aprimorar seu
modo de redigir.
É no parágrafo
que você vai construindo o ordenamento
lógico do trabalho desenvolvendo as argumentações que comprovam a tese que
você está defendendo, ou seja o posicionamento que você tem em relação ao
assunto que você pesquisou.
O parágrafo
pode ser construído à maneira de um silogismo.
A primeira afirmação enuncia positivamente e com bastante clareza o que você
tem de novo para apresentar a comunidade científica, ou simplesmente reafirmar
o que está estabelecido a respeito do assunto pesquisado.
As outras
afirmações vêm no sentido de dar comprovação a primeira afirmação e dar uma
conclusão parcial que contribuirá para a conclusão final do trabalho. A partir
desta conclusão parcial você inicia um novo parágrafo e vai desenvolvendo o
trabalho.
Os parágrafos
compõem os capítulos. Ao término de um capítulo é muito oportuno observar se o
mesmo está seguindo o roteiro lógico estabelecido
ou seja, se o capítulo está dando sequência ao capítulo anterior e se prepara o
desenvolvimento do próximo capítulo. É assim que se constrói a coesão do trabalho.
Coesão do
trabalho é este encadeamento ordenado, e esta ligação harmoniosa entre os
parágrafos no desenvolvimento das informações obtidas na pesquisa que darão
clareza, precisão, coerência e interesse pelo seu trabalho.
Verifique
portanto se os parágrafos estão bem estruturados e interligados entre si
transmitindo com clareza as informações ou os argumentos que você deseja
transmitir. Se for o caso e você achar conveniente para melhor entendimento da
sua pesquisa modifique a ordem dos parágrafos.
Examine com
atenção e elimine os parágrafos que tenham ideias ou informações repetidas e
irrelevantes escritas de forma diferente.
Para o
aprimoramento da sua comunicação científica leia e releia cada capítulo
examinando e excluindo adjetivos e advérbios desnecessários. Corrija erros de
digitação, erros gramaticais, erros de concordância nominal e verbal, erros de
regência verbal e etc....
Para evitar
qualquer ambiguidade de entendimento da sua comunicação científica é necessário
uma leitura examinando o correto uso sobretudo de adjetivos, advérbios e
verbos. Uma espécie de revisão semântica do trabalho. Os termos, as palavras,
as expressões foram usados adequadamente?
Checar a
veracidade e a exatidão das informações antes de ter seu trabalho publicado é
dever de todo pesquisador. Caberá ao pesquisador toda a responsabilidade pelas
informações divulgadas em seu trabalho. Recomenda-se portanto que faça uma
leitura cuidadosa checando todas as informações, sobretudo valores numéricos,
datas, equações, símbolos, citações de tabelas e figuras, e as referências
bibliográficas.
CONCLUSÃO – Ao
darmos por encerrada esta oficina afirmamos que estamos apenas começando. É
sobretudo na prática que cada
pesquisador irá descobrir e aprimorar o próprio estilo científico de escrever.
Um estilo simples como convém na comunicação entre pessoas que transmitem os
resultados de uma pesquisa ou a explicação de um fato de forma compreensível
pelo maior número possível de pessoas.
A simplicidade
do estilo científico na comunicação humana consiste exatamente na escolha
correta e adequada das palavras e das expressões para melhor construir o
raciocínio na explicação verdadeira dos fatos relativos à sociedade e à
natureza superando as alienações e se aproximando da verdade. Não nos
esqueçamos: a verdade nos libertará.
É esse o grande
desafio que se coloca para os pesquisadores atuais libertarem-se do controle
autoritário dos administradores das agências de fomento, das empresas, das
universidades e dos institutos de pesquisa.
São estes os
locais onde se executam as políticas de produção de conhecimentos que não vão
lhes pertencer, nem à sociedade que lhes paga o salário.
Estes
conhecimentos serão apropriados através de patentes por empresas e
transformados em mercadorias para geração de lucros ou em instrumentos de
dominação e opressão de pessoas e de povos.
O pesquisador
perde o controle sobre a aplicação dos resultados de sua pesquisa. É por isso
que precisamos formar pesquisadores cientificamente competentes e politicamente
comprometidos com as questões que interessam à humanidade, à sociedade e à
comunidade.
Atualmente a
relevância de uma pesquisa passa necessariamente pela relevância social, pelos
benefícios que a pesquisa possa proporcionar para a comunidade, para sociedade,
enfim, para a humanidade. Necessitamos urgentemente de pesquisadores sensíveis
aos problemas que causam sofrimento às pessoas: a cura de doenças, saúde,
alimentação, a fome entre outros.
Em uma região
subdesenvolvida e carente como a Amazônia não podemos gastar o dinheiro público
para financiar diletantismo acadêmico ou científico de qualquer ordem. Os
projetos de pesquisa devem surgir a partir de problemas vividos pela sociedade
e não por curiosidades dos pesquisadores.
Professor
Pesquisador, Professor Educador, faça da sua prática pedagógico-científica um
instrumento de aproximação e solidariedade entre as pessoas e os povos.
Prof. Dr. Roberto Monteiro de Oliveira
Manaus,
2015
Laboratório
de Etnoepidemiologia e Etnoecologia -
LETEP
Puxirum
de Metodologia Científica
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